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segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Em 1938 estava prevista uma fábrica de adubos para Rio Maior

Em 1938, falava-se na construção de uma fábrica de adubos em Rio Maior.


Segundo o documento “World Trade Notes of Chemical and Allied Products” do Departamento do Comércio dos Estados Unidos, reportam a intenção de uma empresa francesa de construir uma fábrica de adubos em Rio Maior.


“Proposta de uma fábrica de Nitrogénio em Portugal – Interesses financeiros franceses estão a considerar construir uma fábrica de sulfato de amónia em Portugal. A fábrica irá laborar segundo o processo Casale e terá uma capacidade de produção anual de 30.000 toneladas de sulfato de amónia. O local escolhido é Rio Maior, Santarém e os produtos propostos são amónia sintética, ácido nítrico, ácido sulfúrico, sulfato de amónia e outos fertilizantes. O carvão para a laboração virá das minas que se situam perto de Rio maior.
(Consulado Geral Americano, Lisboa)”.

Esta fábrica nunca veio a ser criada.

Já em 1947 o Ministério da Economia de Portugal também pretendia construir uma fábrica de adubos químicos para aproveitar as lignites de Rio Maior e que seria para instalar no Vale de Santarém, Rio Maior ou Caldas da Rainha.
Em 1949 existe uma grande expectativa em torno do aproveitamento industrial das lignites. Prosseguem os estudos para instalação de fábrica de adubos químicos, com sondagens em terrenos a sul da vila de Rio Maior, entre o sítio das Bastidas e a Quinta dos Sobreiros.
Esta fábrica também nunca veio a ser construída.

A fábrica de adubos poderia ter trazido alguma dinâmica no tecido empresarial de Rio Maior e teria permitido a que a Mina do Espadanal funcionasse por mais uns tempos, mas também teria trazido problemas ecológicos para toda a região.

quarta-feira, 3 de março de 2021

História e lição empresarial na época do Marquês de pombal.

Esta é a história de um Inglês que mudou a vida da Marinha Grande há 250 anos atrás.

Esta é a história de Guilherme Stephens em que envolve Rio Maior numa lição empresarial.

 


Guilherme nasceu a 1731 em Inglaterra e após a morte prematura dos pais veio trabalhar para Portugal com apenas 15 anos. Com o terramoto de 1755 fica desempregado e passa a viver em abrigos. Sabendo que para a reconstrução de Lisboa vão ser necessárias matérias primas, propõem ao rei D. José e ao Marquês de Pombal a criação de uma fábrica de cal que começa a laboral em 1757. Após 1764 e com a necessidade de vidros e janelas, o Marquês de Pombal convida Guilherme Stephens a reconstruir a fábrica de vidro perto do Pinhal do Rei, na atual Marinha Grande. A 16 de Outubro de 1769 a Real Fábrica de Vidros começa a laboral.


Conta-se uma interessante história, envolvendo Rio Maior, em que a perspicácia empresarial de Guilherme Stephens fica bem evidente. Esta história encontra-se descrita em “Memórias Histórica de Algumas Vilas e Povoações de Portugal” de 1871.


Guilherme Stephens saiu de Lisboa em direção á Marinha Grande, como era seu costume, para acompanhar pessoalmente a produção na fábrica, apesar de ter inteira confiança no administrador.

Chegando a Rio Maior, descansou numa estalagem, de construção recente, aí existente.

A estalajadeira trouxe-lhe um copo grande com vinho. O copo nada tinha de notável a não ser a forma colossal e a grossura do vidro. Stephens, depois de observar o copo, chamou a estalajadeira.

- Onde comprou este copo, boa mulher?

- Veio da Marinha Grande e não me custou muito dinheiro, meu senhor. É de tão boa qualidade que já tem caído no chão algumas vezes e ainda se não quebrou.

- Deveras?

- É tão certo que se não tivesse agora medo que não me saísse o dito verdadeiro, pediria ao senhor que o deitasse ao chão.

- Se o quebrar, hei de pagar-lho.

Gulherme Stephens atirou o copo ao solo e a mulher teve o prazer de ver que ficou inteiro.

- É de boa qualidade, não há dúvida, resmungou Stephens, e acrescentou alto:

- Compro este copo…

- O senhor…

- Sim… quanto quer por ele?

- Já tem uso e faz-me falta.

- Não importante… Guarde isso.

E Guilherme deu uma moeda de ouro á estalajadeira, que ficou eufórica pois há muito não via nas suas mãos tão avultada quantia.

- Visto que já o copo é meu, dê-me agora um martelo, boa mulher.

Stephens com duas marteladas fez o copo em mil pedaços o que deixou a mulher atónita.

- Não se admire. Você há de vir um dia a saber para que isto se fez.

Guilherme Stephens dirigiu-se á Marinha Grande e logo que chegou ali mandou chamar o administrador.

- Disseram-me, e eu vi, que se fazem aqui copos de vidro grosso para tabernas e estalagens.

- É verdade, e por sinal que tem extraordinário consumo, pois os almocreves estão aí a gabar a sua duração… afirmam eles que se não quebram.

- Fique sabendo, sr. administrador, que isso é contrário aos interesses da fábrica.

- Pois eu julgo que tão grande fama deve acreditar a fábrica.

- Assim deve ser. Mas de hoje por diante não se hão de fazer copos, nem vidros, que se não quebrem.

Efetivamente, desde essa altura que não se fabricam na Marinha Grande copos como o que Stephens sacrificou em Rio Maior”.

 

Este conceito de produção de “Um artigo que não se estraga é uma tragédia para os negócios” está hoje em dia ligado à chamada obsolescência programada em que os produtos são feitos para durar menos tempo e assim aumentar o volume de negócios.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Resinagem em Rio Maior


A Resinagem ainda continua ativa em Rio Maior.
Apesar de cada vez haver menos pinheiros devido à invasão dos eucaliptos é ainda possível ver a resina a correr bem perto da cidade de Rio Maior, como é o caso de Vale de Óbidos.

A resina é uma secreção das plantas, mais abundante mas espécies resinosas que serve para proteger a árvore das agressões, quando sofrem danos ou feridas. A resina é um líquido viscoso translúcido de cor amarela acastanhada que estimula a cicatrização da ferida e funciona como protector pois repele herbívoros e insectos. A resina não deve ser confundida com a seiva pois têm funções e características diferentes na árvore.


A resinagem é praticada manualmente pelo resineiro com o objectivo de extrair, recolher, limpar e acondicionar a resina de pinheiros.
A extracção da resina consiste em fazer cortes na casca do troco, fazendo com que a árvore produza e liberte a resina que é recolhida num recipiente preso à árvore.
A resinagem permite uma valorização extra dos povoamentos de pinheiros promovendo a criação de emprego e riqueza nos meios rurais.
A resinagem está regulada pelo decreto de lei nº 181/2015 de modo a permitir que a árvore continue a crescer ao longo da sua vida.

A resina é entregue a fábricas que a transformam em matéria prima para variados produtos.
A resina entra no fabrico de: Aguarrás; Vernizes de óleo; Lacas; Graxas; Colas; Elásticos; Indústria do papel; Medicina; …


Em termos históricos sabe-se que as resinas, incenso e mirra, foram muito utilizadas em rituais religiosos na Grécia, Roma e antigo Egito. Desde a Idade da Pedra até à Idade do Bronze o âmbar (resina fossilizada) era muito popular como ornamento. No meio naval a resina era usada para impermeabilizar e tornar mais resistentes a estrutura de madeira, mas também as cordas e lonas.
O uso excessivo das resinas levou ao aparecimento das primeiras resinas sintéticas em 1907 por Leo Baekeland.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Subestação Eléctrica de Rio Maior



A Subestação Eléctrica de Rio Maior é um equipamento chave na Rede Nacional de Transporte de Energia Eléctrica pois serve de elo de ligação entre o Norte e o Sul do país e também é um dos pontos importantes no abastecimento à Região de Lisboa. 


A subestação ocupa uma área com cerca de 23 hectares e fica situada perto da localidade de Senhora da Luz, na fronteira entre os concelhos de Rio Maior e de Caldas da Rainha. Apesar de se chamar Subestação Eléctrica de Rio Maior, a instalação está praticamente toda no concelho de Caldas da Rainha. 
A inauguração da subestação ocorreu em 1979 e foi uma das primeiras em Portugal a funcionar em muito alta tensão (400KV) embora também funciona-se nos 60KV e 220KV (tensão normal no transporte de energia eléctrica em alta tensão). Alta tensão é um termo utilizado para identificar as considerações de segurança no sistema de geração, distribuição e utilização de energia eléctrica baseado no valor de tensão eléctrica utilizada e é geralmente caracterizada por carregar um risco substancial de arco eléctrico no ar. Define-se circuitos de alta tensão como aqueles com mais de 1KV em corrente alternada. 


Uma subestação é uma instalação eléctrica de alta potência que contem equipamentos para transmissão, transformação e distribuição de energia eléctrica e ainda equipamentos de protecção e controlo. 
A Subestação Eléctrica de Rio Maior é uma infra-estrutura de transformação e distribuição de energia eléctrica que recebe de unidades de produção, como o Parque Eólico da Serra dos Candeeiros ou a Central Térmica do Pego, em Abrantes e eleva a tensão da electricidade para ser transportada em Alta Tensão ou Muito Alta Tensão para as zonas de consumo. 
A subestação foi muito falada, quando pelas 22 horas e 20 minutos de 9 de Maio de 2000, uma cegonha tocou num cabo de alta tensão junto à subestação de Rio Maior e devido à centralidade desta infra-estrutura metade do país ficou sem electricidade. O “apagão” afectou sobretudo a região da Grande Lisboa e a península de Setúbal. Mas os distritos de Faro, Beja, Évora, Portalegre e Santarém foram também afectados. 


Actualmente a Subestação de Rio Maior é a 7ª maior infra-estrutura deste género na Rede Eléctrica Nacional que é composta por 67 subestações eléctricas. 


Evolução da Rede de Transporte de Energia Eléctrica em Portugal. 
Até à década de 40 do século passado, o sistema eléctrico caracterizava-se por diversos pontos de produção, geralmente térmicos, e redes regionais e locais de distribuição. 
A Companhia Nacional de Electricidade (CNE) foi instituída por escritura pública em 14 de Abril de 1947, cujo objectivo centrava-se no fornecimento de energia aos concessionários da grande distribuição ou consumidores em que o abastecimento directo assim o justificava, recorrendo ao estabelecimento e exploração de linhas de transporte e subestações. 
Foi no dia 17 de Janeiro do ano de 1951 que foi inaugurada a denominada Rede Primária, com a entrada em serviço de um grupo da central de Castelo de Bode ligado a Lisboa. Meses mais tarde entraram em serviço as linhas que interligaram Vila Nova a Ermesinde e Ermesinde ao Zêzere, começando-se deste forma a delinear a Rede de Transporte a 150 KV. 
No ano de 1958 dá-se um facto importante no que era até então a Rede de Transporte com o aparecimento do nível de tensão de 220 KV na linha que unia o Picote a Pereiros. 
A expansão da rede de 220 KV no ano de 1961 assenta na criação de uma segunda linha Vermoim - Picote e na importante ligação à rede europeia nomeadamente, Espanha (Saucelle). Assim, Portugal passou a dispor do apoio eléctrico de Espanha e indirectamente da Europa, que quer por razões de segurança, quer por carências energéticas ou até mesmo por questões económicas, se revelou de grande importância. 
A Subestação de Pereiros em 1958 passou a ser o nó de ligação norte – sul. 
Dadas as dificuldades de previsão de cargas e da impossibilidade de estabelecer percursos para a energia, levou a que no ano de 1964 fosse instalado um analisador de redes. Este permitia antecipar sobrecargas e ter conhecimento dos níveis de tensão nos diversos pontos da rede. Já em 1963 tinha sido instalado um regulador automático de frequência, para que este a mantivesse dentro de intervalos aceitáveis, face à sua importância na qualidade e fiabilidade do serviço prestado. 
A fusão em 1 de Dezembro de 1969 de todas as empresas concessionárias da produção e da Rede de Transporte, deu origem à Companhia Portuguesa de Electricidade (CPE). 
Com a crise petrolífera de 1973 e as alterações no quadro político em 1974/75, motivaram a nacionalização do sector eléctrico em 1975, e posteriormente em 1976, à constituição da Electricidade de Portugal (EDP). 
Em 1976 surge pela primeira vez na Rede de Transporte Nacional uma linha isolada para 400 KV, mas que funcionaria a 220 KV, na ligação Carregado – Setúbal. 
Este período para além das habituais ampliações necessárias em consequência do aumento
dos consumos, contemplou o reforço da produção térmica a sul com a grande central de Setúbal.
No ano de 1979, e dá-se início à exploração do nível de 400 KV. As primeiras subestações a usufruírem deste nível de tensão foram as então criadas subestações de Rio Maior e Palmela que entraram em serviço neste ano.
Chega-se a 1985 com o País dividido em termos energéticos entre Norte e Sul. Esta divisão do País com a produção, hídrica a norte e térmica a sul, conduz à transferência para a subestação de Rio Maior da forte interligação destas duas zonas, que antes se encontrava em Pereiros. De referir que o sul de Portugal não possuía ligações eléctricas a Espanha. Pereiros não poderá funcionar como reserva de Rio Maior face à quantidade de energia em jogo. 
A partir do ano de 1987 passa-se a possuir uma “auto-estrada” energética entre Sines e Riba D’Ave a 400 KV, reforçada no ano de 1990.
Em 1994 a REN se desagrega da EDP, ficando esta apenas com 30% do seu capital, e se constitui no operador único de transporte de energia eléctrica que hoje existe.
A rede de transporte de energia eléctrica está em constante desenvolvimento e tem sido alvo de abultados investimentos para melhorar a qualidade do serviço e se ir adaptando aos novos tipos de fornecedores e consumidores de energia.


Rio Maior já possuiu uma Central Hidroeléctrica, inaugurada em 1928. Pode saber mais em: 
Rio Maior já possuiu uma Central Térmica na década de 30 do século passado. Pode saber mais em: 
Rio Maior possui um grande Parque Eólico. Pode saber mais em: 
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Estação de Tratamento de Efluentes Suinícolas de Alcobertas


A primeira estação de tratamento de esgotos para suinicultura em Portugal foi inaugurada em Maio de 1993 na região de Alcobertas. A criação deste equipamento contou com o apoio financeiro do FEDER e do ICN. 
Na altura a suinicultura era uma das maiores fontes de riqueza do Concelho de Rio Maior, mas eram também reconhecidos os graves problemas para a saúde pública que o não tratamento dos dejectos provocam. 
A Associação de Desenvolvimento de Serra d’Aire e Candeeiros (ADSAICA) era a responsável pela Estação Coletiva de Tratamento de Efluentes Suinícolas (ECTES) de Alcobertas. 
A estação de tratamento de esgotos para suinicultura tinha equipamentos considerados revolucionários para a altura permitindo não só o tratamento dos afluentes recebidos, mas também a produção de energia eléctrica. A ECTES de Alcobertas foi o primeiro sistema de digestão anaeróbia (Biogás), de tipo centralizado, destinado ao tratamento de efluentes de suinicultura, baseado na valorização do potencial energético daquele tipo de resíduos orgânicos. 
Mas a estação nunca funcionou conforme o previsto. Poucos suinicultores aderiram a esta estação de tratamento de efluentes e algumas dificuldades técnicas praticamente atiraram as instalações para o abandono.


A ADSAICA foi criada em 1990 pelos sete municípios da área do PNSAC e pelo então Instituto de Conservação da Natureza (ICN). Com a conversão do ICN em Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICN-B), a manutenção da estação foi-se degradando com a perda do técnico que geria a ECTES e do funcionário que retirava as lamas. 
Em 2010 a direção da ADSAICA, presidida então pela Câmara Municipal de Alcanena, assumiu a incapacidade para gerir a ECTES e aprovou em assembleia geral a sua doação ao Município de Rio Maior. Rio Maior assumiu o compromisso de arrancar com um projeto de recuperação e reativação da ECTES, orçado em 100 mil euros numa primeira fase. No entanto a estação manteve-se sem qualquer recuperação nem atividade. 
Em 2012, foi assinado entre a autarquia de Rio Maior e a Junta de Freguesia de Alcobertas um protocolo de transferência deste equipamento para a alçada da Junta de Freguesia. A Junta de Freguesia defendeu ser a ECTES economicamente sustentável uma vez que dos 100 mil euros orçados, 60 mil já não seriam necessários pois a Junta de Freguesia já tinha o trator e a cisterna. Apostava-se na venda do fertilizante, resultante do tratamento do resíduo, para a agricultura. 
A recolha e tratamento de efluentes pecuários começou a ser realizada, já o sistema de produção de energia eléctrica a biogás não voltou a ser ativado pois a recuperação foi considerada muito cara para o rendimento da ETAR. 
A Estação Colectiva de Tratamento de Efluentes Suinícolas (ECTES) de Alcobertas também recebe águas ruças provenientes dos lagares de azeite. 
Já em Agosto de 2014 as instalações foram inspecionadas pelas entidades competentes na matéria e não foram encontrados problemas. 


Este é um equipamento prioritário para toda a região, não só para o Concelho de Rio Maior, pois existe uma grande concentração de suiniculturas e lagares e os problemas ambientais causados por estas atividades não são especulações mas uma realidade infelizmente sentida já por muitos habitantes. Não esquecer que o rio Maior está praticamente morto devido à elevada carga de poluição que nele é descarregada o que afeta todas as populações por onde ele passa. O rio Maior vai desaguar no rio Tejo contribuindo também para a poluição deste rio. Infelizmente atravessam Rio Maior dois cursos de água altamente poluídos que são o rio Maior e a ribeira de S. Gregório. Nós é que temos de decidir se estamos confortáveis com a situação atual ou se queremos mudar. 
Urge criar um sistema de identificação de todas as suiniculturas existentes na região, criar um sistema de recolha de resíduos de todas elas e em Estações de Tratamentos de Efluentes Suinícolas fazer a sua descontaminação e valorização. 

Pode ver imagens de 1993 da pré-inauguração desta estação de Alcobertas em:  
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/estacao-de-tratamento-de-esgotos/

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O Sílex de Azinheira, Rio Maior

O Sílex é usado desde praticamente que o homem é homem. 

Em Rio Maior existem vestígios da recolha de sílex, processamento e utilização desde a época do Paleolítico inferior (com o Homo Heidelbergensis) até aos nossos dias. 
No museu da Casa Senhorial estão expostas peças encontradas em Rio Maior, como: Biface do Paleolítico Inferior; Lasca, Raspadores e Pontas Bifacial do Paleolítico Médio; Núcleos, Lascas, Lamelas, Lâminas e Instrumentos Líticos do Paleolítico Superior; Lamelas, Núcleos de Lamelas, Geométricos, Crescentes e Instrumentos Líticos da Idade da Pedra Polida). 


O Sílex é uma rocha sedimentar silicatada, constituída de quartzo criptocristalino. Possui uma densidade elevada, com fratura conchoidal e possui geralmente uma cor cinzenta mas com misturas de outras cores. Existe sob a forma de nódulos ou massas em formações de giz ou calcário. 
Pode ter origem orgânica, fazendo parte do grupo dos acaustobiólitos (rochas de origem biológica não combustíveis, formada de carapaças siliciosas de organismos marinhos) ou inorgânica. Pode ainda ter origem em fenómenos de substituição (processos metamórficos que se desenvolvem após a rocha ígnea estar totalmente sólida). 


Os depósitos de sílex de alta qualidade existentes na zona da Azinheira, Rio Maior, foram a fonte de matéria-prima mais extensivamente explorada para ferramentas de pedra lascada em toda a parte ocidental da Península Ibérica. 
As pedras de sílex da Azinheira foram transformadas em ferramentas pelos homens primitivos ao longo de toda a última Idade do Gelo, entre 60.000 a 10.000 anos atrás. A presença abundante dos cascalhos da Azinheira pode ser responsável pela elevada densidade de locais arqueológicos do Paleolítico Superior registados perto de Rio Maior. 
Num trabalho geoarqueológico realizado entre os anos de 1990 a 2016, foram examinadas mais de 2.330 pedras de sílex ou calcárias recolhidas na Azinheira. Nenhum do sílex encontrado foi encontrado dentro do calcário rochoso, leitos de sílex ou outros contextos geológicos primários. Logo, todo o sílex existente foi transportado para a Azinheira através de processos aluviais ou outros processos geológicos percorrendo distâncias que podem ser de várias dezenas de quilómetros. As pedras de sílex da Azinheira aparecem em cascalhos e depósitos de areia de Mioceno. 
A composição geoquímica do sílex encontrado varia muito o que indica múltiplas origens de formação desta rocha. Algumas amostras encontradas foram originalmente formadas em ambientes marinhos profundos, enquanto outras indiciam ambientes sedimentares de plataforma rasa. 


Mas o sílex da Azinheira não foi somente utilizado extensivamente durante a pré-história. Durante os séculos XVII e XVIII a aldeia da Azinheira foi o principal centro de produção de pederneiras de Portugal. 
Utilizando a particularidade da pedra de sílex libertar uma faísca quando colide com uma peça metálica, o sílex foi usado como pederneira nas armas de fogo, para provocar a detonação. 
Na edição do “Archaeólogo português, Volumes 7-8” de 1903 existem referências às pederneiras e a Azinheira:
- “... Petiscando pederneira sobre um trapo: ao pé do trapo põe-se giesta seca, sopra-se no trapo e acende-se o trapo e a giesta ...” 
- “... na memória relativa a Rio Maior, encontra-se: Compõe-se esta freguesia de nove Aldeas, a de Azinheira, celebre pelas pederneiras que nella se fabricão e tem 32 fogos, etc. ...” 


O mecanismo de pederneira, desenvolvido no início do século XVII, veio para mudar o anteriormente utilizado mecanismo de fecho de mecha. Consiste na utilização de uma pedra de Sílex presa ao extremo do Cão , que após ser accionado pelo gatilho, percute uma peça metálica chamada fuzil, provocando uma faísca que detona a pólvora presente na câmara de detonação. 
Foi o principal mecanismo de detonação de armas de fogo até a segunda metade do século XIX, quando veio a ser preterido pelo mecanismo de percussão, com o aparecimento dos cartuchos. 

Em Portugal as espingardas de fechos de sílex (ou de pederneira, como se chamaram em Portugal) começaram a aparecer no início da década de 1570, mas a confiança nelas era tão pequena que por provisão de 1574, se determinou que quem tivesse arcabuz ou espingarda de pederneira era obrigado a ter serpe ou morrão, para garantia do funcionamento da arma. 
Em 1675, no reinado de D. Pedro, as espingardas de pederneira começaram a substituir os arcabuzes e os mosquetes de morrão; e a cavalaria passou a dispor de clavinas e de pistolas. Embora D. Pedro desejasse ter o Exército todo armado com armas de pederneira, não o conseguiu por falta de meios. 
Em 1704, envolvemo-nos na Guerra de Sucessão de Espanha e durante essa guerra houveram alterações importantes no nosso exército. Por aviso de Maio de 1704, D. Pedro II determinou que os “terços de infantaria se armassem com bocas-de-fogo (armas de pederneira) com baioneta (de alvado). 
Em 1762 Portugal entra na guerra dos 7 anos. Portugal pede ajuda a Inglaterra que manda o Conde de Lippe à frente de uma força militar. O Conde de Lippe constata que o exército português está mal equipado e em acordo com o Conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal decidem tomar medidas importantes que tendem à auto-suficiência do exército nacional. 
A 27 de Agosto de 1762 (Reinado de D. José) apareceram nos Armazéns do Reino 23 pessoas de Azinheira identificados como “fabricantes de Pederneira de Rio Maior”. Todos eles aceitaram fazer um contrato em que eram obrigados a entregarem nos Armazéns do Reino 140 pederneiras por dia e por cada um deles. Dois terços das pederneiras seriam para espingarda e um terço para pistola. Ficavam também impedidos de vender qualquer excesso de produção que conseguissem ter sem a licença de Sua Majestade. Foram distribuidos padrões das pederneiras por cada fabricante para estes assegurarem que a produção estava conforme o especificado e as peças não serem rejeitadas pelos aprovadores do exército. Cada fornecedor era pago à razão de mil e oitocentos reis por cada milhar de pederneiras entregues. O Rei também queria fazer uma fábrica de pederneira em Alcântara e obrigou a que 8 dos 23 produtores de Rio Maior ficassem nas Pedreiras de Alcântara. Os que foram para Azinheira: Manuel Gomes, Manuel seu filho, José de Vargas, José da Costa, Inácio da Costa, Manuel da Costa Marques, António da Costa, Francisco da Costa, Manuel de Vargas, Miguel Cardoso, António Pedro, António Mendes, António da Costa da Ribeira, João da Silva Marques e Francisco Ferreira. Os que ficaram em Alcântara: José do Vale, João de Figueiredo, Miguel de Figueiredo, João Pereira, José de Vargas, António de Vargas, Manuel filho de José Carvalho, Bernardo da Silva 
Já no século XIX as nossas espingardas, carabinas e pistolas eram ainda de pederneira, mas os exércitos europeus tentavam adaptar os fechos de percussão às suas armas, mas não foi fácil essa alteração (as pólvoras e cápsulas fulminantes estavam no seu início e pretendia-se transformar armas antigas em vez de fabricar novas). Em Portugal foi determinado que as armas enviadas para conserto no Arsenal fossem transformadas e distribuídas aos regimentos de infantaria. Os resultados foram tão maus que, por ocasião da Guerra da Patuleia (1846), tiveram de ser distribuídas de novo armas de pederneira. 
A produção de pederneira era de tal forma importante que só os povos da Azinheira empregados na produção de pederneiras, conservaram até 1834, a regalia de não serem obrigados a ir à Guerra. Para a recolha do sílex eram feitos uns buracos estreitos e fundos no solo, “veios”, onde a rocha era procurada para posteriormente se fazer as pederneiras. À entrada da Azinheira existe um local denominado “Alto da Cascalheira” que seria onde as pedras de sílex eram concentradas. 
A transformação das armas de pederneira em percussão tomou novo alento com a Regeneração, sendo dada ordem para a conversão generalizada em 1852. Mas só em 1855 se conseguiu produzir um sistema de fechos de ignição de confiança e, simultaneamente, um bom controle de fabrico. 


Hoje em dia a pederneira continua a ser usada mas como equipamento de sobrevivência, utilizada por profissionais de caça, pesca, campismo, resgate e salvamento. 
Como se consegue produzir faíscas da pederneira mesmo após ter sido molhada e palha, gravetos finos ou qualquer outro material pode ser utilizado como combustível para fazer uma fogueira, é um óptimo produto para actividades ao ar livre. 


Este artigo foi baseado em várias publicações, sendo que as 3 mais importantes são: 
- “Pederneiras de Azinheira” - Artigo e notas de Maria Alzira Almeida publicados em nº 1 da 11ª série de O Riomaiorense. 
- “The Rio Maior – Azinheira Ridge (RMAR) Chert Characterization Project”, coordinated by Paul Thacker (2013-2016) 
- “História das armas de fogo e seus Sistemas de Operação: Armas de pederneira” de Ricardo M. Andrade (2016)

domingo, 8 de novembro de 2015

Monumento com Semi-reboque em Rio Maior


No dia 5 de Novembro de 2015, pelas 15:30, foi inaugurado um monumento na rotunda da Zona Industrial em memória de José Luis Soveral e Sérgio Soveral (Industriais).

O monumento consiste numa réplica de um semi-reboque dentro de uma esfera armilar. A esfera contem uma faixa com as palavras Humildade, Seriedade e Vontade.
Os trabalhadores do Grupo JOLUSO-INVEPE, propuseram e executaram este monumento de forma a homenagear os antigos patrões (pai e filho) que faleceram de forma trágica.

Foi debaixo de chuva intensa que a inauguração se realizou integrada nas comemorações do feriado municipal de Rio Maior. A cerimónia contou com a presença dos funcionários do grupo JOLUSO-INVEPE,  da administração do grupo, Paula Soveral e Eduardo de Oliveira Duarte, da Presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, Isaura Morais, do Presidente da Assembleia Municipal, António Arribança, do Presidente da AIP, José Eduardo Carvalhos e de muitos outros que se associaram.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Petróleo em Rio Maior?


Que há petróleo em Rio Maior, não existem dúvidas. Sobre se é rentável extrair esse petróleo, é que existem dúvidas. Pelo menos ao preço atual do crude não é rentável perder tempo sequer para o encontrar.

Os resultados das sondagens são encorajadores e existe a presença de outros fatores necessários para potenciar a comercialização, como haver rochas estáveis e haver a presença de reservatórios naturais subterrâneos.

Em 1996, como tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Ciências da universidade do Porto, a Dra. Deolinda Maria dos Santos Flores Marcelo da Fonseca, apresenta o “Estudo Petrológico e Geoquímico dos Carvões da Bacia de Rio Maior”. No entanto o estudo petrográfico dos carvões na Bacia de Lignites e Diatomitos de Rio Maior foi iniciado por Flores em 1987. Uma das conclusões do trabalho é que “Os carvões de Rio Maior apresentam-se como potenciais produtores de hidrocarbonetos gasosos e líquidos”.

Apesar de muito falada, a corrida ao petróleo que teve o seu auge no início da década de 2010, esfriou e agora deixou-se sequer de falar nas prospeções.


História da pesquisa de petróleo em Portugal:

As primeiras sondagens foram efetuadas no início do século XX e junto a ocorrências impregnadas de petróleo que apareceram à superfície.
Em 1938 foi emitido um alvará de concessão para a pesquisa de petróleo nas bacias Lusitânica e do Algarve. Desde 1938 até 1968 realizaram-se 78 sondagens e cerca de 3.264km de reflexão sísmica.
Algumas das sondagens apresentaram indícios para produção sub-comercial.
Entre 1973 e 1979 foram abertos concursos de pesquisa internacionais e já sob a nova legislação do petróleo que dividia as zonas de pesquiza, onshore (em terra) e offshore (no mar), em blocos. Foram realizadas 22 sondagens e 21.237km de reflexão sísmica. Todas as sondagens foram abandonadas, apesar de apresentarem em algumas bons indícios de petróleo. Em duas das sondagens, Moreia-1 e 14 A1, chegaram-se mesmo a produzir pequenas extrações de petróleo em “drillstemtest”.
Em 1978 volta a haver o interesse pela pesquisa onshore e entre 1978 a 2004 foram atribuídas 23 concessões no onshore, 15 concessões no offshore e 1 licença de avaliação prévia para o deep-offshore da bacia do Algarve. Foram efetuadas 28 sondagens e 36.000km de reflexão sísmica.
Em 2005 foram adjudicadas à Repsol-YPF (Espanha) e RWE-Dea (Alemanha) os blocos 13 e 14.
Em 2006 a MohaveOil&GasCorporation era a única companhia a operar em Portugal e descobriu na região de Alcobaça gás e na região de Torres Vedras recuperou óleo, iniciando-se testes de produção.
Em 2007 foram assinados 12 novos contratos de concessão. A 1 de Fevereiro de 2007 criaram-se mais 3 contratos de concessão para o consórcio Hardman/Galp/Partex que a 25 de Março de 2010 passaram para o consórcio Petrobas/Galp. A 18 de Maio de 2007 foram criadas 4 concessões para o consórcio Petrobas/Galp/Partex. A 3 de Agosto de 2007 foram criadas 5 concessões para a empresa MohaveOil&Gas.
Em 2011 a companhia MohaveOil&Gas anuncia um investimento de 49 milhões de euros para encontrar petróleo nas suas concessões (Aljubarrota, Rio Maior, Torres Vedras, Offshore São Pedro de Moel e Offshore Cabo Mondego).
Em Maio de 2014 a MohaveOil&Gas que fazia prospeção de petróleo na Região Oeste de Portugal anunciou o abandono das operações por falta de financiamento.
Em 2014, com a saída da Petrobras dos consórcios, o Governo Nacional decidiu dar mais tempo à Galp para pesquisar petróleo no Alentejo.
Em 2015 a empresa britânica IONIQ Resources afirma ter localizado 6 jazidas de petróleo em Portugal continental, via uma tecnologia que deteta recursos naturais por satélite e que valeriam mais de 43 mil milhões de euros brutos. Esta empresa tentou vender o estudo ao Governo Nacional por 8,2 milhões de euros no qual aparece o petróleo a uma profundidade entre os dois e os três mil metros.
Atualmente a Galp e a Eni continuam a fazer prospeção petrolífera no mar, ao largo do Alentejo.
Para além da procura do Petróleo e do Gás Natural, começa em Portugal a procura pelo combustível ShaleGas. O Shale Gás encontra-se a profundidades entre os 600 e os 3.000 e existem evidências da sua existência no Bombarral, Cadaval e Alenquer.




A Origem do Petróleo:
Existem duas explicações para a formação do petróleo:
  - Biológica, resultado da degradação de matéria orgânica em ambientes redutores a pressão e temperatura elevada.
  - Abiótica, resultado da reação química no interior da terra entre o carbono e metais. A libertação de metano nas zonas de atividade sísmica suporta esta teoria.

História:
O nome Petróleo tem origem nas palavras gregas petra (pedra) e elaion (óleo).
Existem registos do século V D.C. em que na China o petróleo era usado para a produção de sal (para ajudar a evaporar a água), na Pérsia o petróleo era usado para a medicina e para a iluminação e no século VIII D.C. era usado em Bagdad para pavimentar estradas.
A produção de petróleo como é atualmente conhecida começou em 1846 com Abraham Gesner a refinar querosene a partir do carvão, o que levou IgnacyLukasiewicz a fazer o mesmo mas a partir do óleo mineral. A primeira refinaria foi construída em Baku, Azerbaijão, no ano de 1861.