sexta-feira, 23 de abril de 2021

Ligação ferroviária em Rio Maior, 1874


O caminho de ferro sempre foi muito desejado em Rio Maior.

Chegou a existir em Rio Maior um ramal, mas de carga, devido à Mina do Espadanal.

Pode saber mais sobre esta linha em: 

https://rio-maior-cidadania.blogspot.com/2011/08/antiga-linha-de-caminho-de-ferro-em-rio.html 

 

No entanto este artigo é sobre um pedido de licença de construção e exploração de um caminho de ferro para mercadorias e passageiros que ligaria a Ponte de Sant’Ana no Cartaxo e o Porto de S. Martinho.

Esta ligação ferroviária estava prevista com paragens na Vila do Cartaxo, Rio Maior, Óbidos e Caldas da Rainha.

O pedido foi autorizado em 26 de fevereiro de 1874.

As condições de autorização estão nas imagens seguintes:



Claro que esta obra nunca foi concretizada.

Curioso é o pedido da licença ter sido feito por Luíz Augusto Palmeirim (imagem no topo deste artigo).

 

Luíz Augusto Palmeirim

Poeta pertencente à geração ultrarromântica, de nome completo Luís Augusto Xavier Palmeirim, nascido a 9 de agosto de 1825, em Lisboa, e falecido a 4 de dezembro de 1893, na mesma cidade.

Também foi deputado, jornalista, dramaturgo, crítico e tradutor. Proveniente de uma família de militares de alta patente, frequentou o Colégio Militar e tomou parte na rebelião da Maria da Fonte, entre 1846 e 1847, ao serviço da Junta do Porto, contra a ditadura de Costa Cabral.

Foi censor do Teatro D. Maria II desde 1853 e diretor do Conservatório de Lisboa desde 1878 até à sua morte, para além de membro da Academia Real das Ciências e da Sociedade Escolástico-Filomática.

Era conhecido como o mais popular dos nossos poetas.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Os Sapateiros de Benedita e a sua relação com Rio Maior



Tendo por base o postal com o endereço de Rio Maior mostrando uma oficina de sapateiro em meados do século passado, decidi investigar um pouco mais. 

A pouco mais de dez quilómetros de Rio Maior, em 1950 havia na freguesia da Benedita 750 (setecentos e cinquenta) sapateiros que trabalhavam em 120 oficinas.

Era habitual os sapateiros da Benedita deslocarem-se ao mercado mensal de Rio Maior, alguns de bicicleta, para venderem o seu calçado. No final do mercado tentavam trocar, nas lojas da região, o calçado não vendido por artigos de sapateiro como solas e cabedais. A Feira das Cebolas em Rio Maior servia de montra ao trabalho destes sapateiros que ganhou fama na região. 

Em termos históricos é aceite que a influência do calçado nesta região provém do Mosteiro de Alcobaça. Sapateiro era uma das profissões mais representadas nos Coutos de Alcobaça nos séculos XIV e XV. Nos finais do século haveria 26 sapateiros nos Coutos, dois por povoação, excepto em Alcobaça. Devido à fraca qualidade dos solos de Benedita, esta actividade seria um complemento aos parcos rendimentos que provinham da agricultura.

A freguesia da Benedita ganhou ao longo do século XX, o epíteto de “Terra de sapateiros”. 

Até meados do século passado as oficinas na em Benedita eram de caris familiar em que o saber passava de pais para filhos. Como é mostrado no postal, junto ao sapateiro havia sempre um velho alguidar de barro para pôr a sola de molho, para a amaciar e poder bater, tornando-a mais concisa e durável.

Durante a Segunda Grande Guerra havia falta de solas e cabedais e por isso, falta de trabalho para os sapateiros. Mas os sapateiros logo se organizaram e clandestinamente este material era transportado no dorso de mulas, vindas de Alcanena pela Serra dos Candeeiros. 

Devido ao violento esforço físico exigido, em 1945 é definida a idade mínima de 14 anos para trabalhar neste ofício.

Na década de 60 do século passado a freguesia foi alvo de um projecto de Desenvolvimento Comunitário que tinha por base o associativismo dos sapateiros e se estendia à melhoria das condições de vida de toda a população. O negócio saiu da clandestinidade e foram criadas duas grandes fábricas no âmbito deste projecto. A freguesia passou a ter água canalizada, luz e estradas alcatroadas. 

 

 

O Pé Descalço.

Durante muito tempo o povo português andou descalço, a pobreza assim o impunha e mais tarde o hábito. 

Só a partir dos últimos anos da monarquia é que se tentou reverter esse costume através de manifestos e da proibição da entrada em Lisboa de pessoas descalças, mas sem grandes resultados.

Foi na década de 30 (século XX) que se erradicou das cidades esse costume através dos esforços do governo que decretou a lei nº 12073 em 1928 que publicava: 

   a) É proibido o trânsito de pessoas descalças na via pública das áreas das cidades, que serão delimitadas por postura municipal;

  b) As disposições poderão igualmente ser aplicadas a outras localidades por decisão dos governos civis; 

   c) A transgressão do disposto será punida com uma multa de $50 a 2$00. A reincidência será punida com o dobro da pena.

Em 1928 a Liga Portuguesa da profilaxia Social criou uma campanha nesse sentido, considerando o uso do pé descalço indecente e anti-higiénico, publicando nessa altura o livro “O Pé Descalço – Uma vergonha nacional que urge extinguir”. 

Em 1947 surgiu nova campanha de sensibilização onde se criou também programas de vacinação anti-tétano. Agora o problema já não era tanto a pobreza extrema, mas o hábito de andar descalço.

Estas campanhas continuaram a nível nacional e regional e muitas pessoas foram presas durante 1 ou 2 dias quando eram apanhadas descalças sobretudo nas cidades e nas vilas porque nas zonas mais rurais não havia tanta fiscalização, então viam-se pelos caminhos homens com botas penduradas ao ombro para serem apenas calçadas quando chegassem às vilas ou às cidades.


 Todos os anos se realiza no primeiro fim-de-semana de agosto a Festa do Pé Descalço na freguesia de Asseiceira.