quarta-feira, 3 de março de 2021

História e lição empresarial na época do Marquês de pombal.

Esta é a história de um Inglês que mudou a vida da Marinha Grande há 250 anos atrás.

Esta é a história de Guilherme Stephens em que envolve Rio Maior numa lição empresarial.

 


Guilherme nasceu a 1731 em Inglaterra e após a morte prematura dos pais veio trabalhar para Portugal com apenas 15 anos. Com o terramoto de 1755 fica desempregado e passa a viver em abrigos. Sabendo que para a reconstrução de Lisboa vão ser necessárias matérias primas, propõem ao rei D. José e ao Marquês de Pombal a criação de uma fábrica de cal que começa a laboral em 1757. Após 1764 e com a necessidade de vidros e janelas, o Marquês de Pombal convida Guilherme Stephens a reconstruir a fábrica de vidro perto do Pinhal do Rei, na atual Marinha Grande. A 16 de Outubro de 1769 a Real Fábrica de Vidros começa a laboral.


Conta-se uma interessante história, envolvendo Rio Maior, em que a perspicácia empresarial de Guilherme Stephens fica bem evidente. Esta história encontra-se descrita em “Memórias Histórica de Algumas Vilas e Povoações de Portugal” de 1871.


Guilherme Stephens saiu de Lisboa em direção á Marinha Grande, como era seu costume, para acompanhar pessoalmente a produção na fábrica, apesar de ter inteira confiança no administrador.

Chegando a Rio Maior, descansou numa estalagem, de construção recente, aí existente.

A estalajadeira trouxe-lhe um copo grande com vinho. O copo nada tinha de notável a não ser a forma colossal e a grossura do vidro. Stephens, depois de observar o copo, chamou a estalajadeira.

- Onde comprou este copo, boa mulher?

- Veio da Marinha Grande e não me custou muito dinheiro, meu senhor. É de tão boa qualidade que já tem caído no chão algumas vezes e ainda se não quebrou.

- Deveras?

- É tão certo que se não tivesse agora medo que não me saísse o dito verdadeiro, pediria ao senhor que o deitasse ao chão.

- Se o quebrar, hei de pagar-lho.

Gulherme Stephens atirou o copo ao solo e a mulher teve o prazer de ver que ficou inteiro.

- É de boa qualidade, não há dúvida, resmungou Stephens, e acrescentou alto:

- Compro este copo…

- O senhor…

- Sim… quanto quer por ele?

- Já tem uso e faz-me falta.

- Não importante… Guarde isso.

E Guilherme deu uma moeda de ouro á estalajadeira, que ficou eufórica pois há muito não via nas suas mãos tão avultada quantia.

- Visto que já o copo é meu, dê-me agora um martelo, boa mulher.

Stephens com duas marteladas fez o copo em mil pedaços o que deixou a mulher atónita.

- Não se admire. Você há de vir um dia a saber para que isto se fez.

Guilherme Stephens dirigiu-se á Marinha Grande e logo que chegou ali mandou chamar o administrador.

- Disseram-me, e eu vi, que se fazem aqui copos de vidro grosso para tabernas e estalagens.

- É verdade, e por sinal que tem extraordinário consumo, pois os almocreves estão aí a gabar a sua duração… afirmam eles que se não quebram.

- Fique sabendo, sr. administrador, que isso é contrário aos interesses da fábrica.

- Pois eu julgo que tão grande fama deve acreditar a fábrica.

- Assim deve ser. Mas de hoje por diante não se hão de fazer copos, nem vidros, que se não quebrem.

Efetivamente, desde essa altura que não se fabricam na Marinha Grande copos como o que Stephens sacrificou em Rio Maior”.

 

Este conceito de produção de “Um artigo que não se estraga é uma tragédia para os negócios” está hoje em dia ligado à chamada obsolescência programada em que os produtos são feitos para durar menos tempo e assim aumentar o volume de negócios.

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