Podemos fazer um retrato da situação de Rio Maior em meados
do século XIX, por um livro editado pela Imprensa Nacional de 1869, com o
título “Collecção dos Relatorios das Visitas
Feitas aos Districtos pelos Respecticos Governadores Civis em Virtude da
Portaria de 1 de Agosto de 1866”.
A imagem representa trajos de Lisboa em 1859.
Pelo distrito de Santarém, relatou em 25 de Fevereiro de
1867 o governador civil, João Read da Costa Cabral.
Sobre Rio Maior está escrito o seguinte:
“Concelho de Rio Maior
Este Concelho,
comquanto tenha uma area bastante grande, todavia é pobre em pessoal e
material, sendo causa d’esta ultima parte não tanto a esterilidade do seu solo
como a falta de vias de communicação, pois não tem nenhuma estrada por onde
possa com facilidade exportar os seus productos, que aliás ainda são de alguma
importancia e muito sobram do consumo concelhio : taes são o bellissimo sal
produzido pelas suas salinas, alimentadas pela agua salgada tirada de um poço
aberto no meio de uma charneca, que é uma das maravilhas da natureza n’aquelle
sitio ; magnificas madeiras que pela difficuldade do transporte não podem
concorrer ao mercado, afóra os cereaes e outros productos agricolas que ainda
são em maior quantidade do que a necessaria para o consumo e que se tornariam
recommendaveis pela sua boa qualidade, como o vinho, as fructas, etc., o que
tudo ali fica estagnado. Possa pois o governo auxiliar este concelho com boas
estradas districtaes, que se me afigura que o thesouro muito lucrará como o
augmento da receita que ha de auferir aos cofres publicos, porquanto a
agricultura, o commercio e a industria hão de ali tomar grande incremento.
Examinando a
escripturação da camara encontrei-a em mau estado, o que é devido á falta de
intelligencia do seu respectivo escrivão e mesmo dos presidentes que ali téem
servido, comquando animados dos melhores desejos, devendo confessar que reputo
o escrivão homem probo. A escripturação da administração do concelho estava
mais regular, devido esto á intelligencia e dedicação do administrador, que
então era o bacharel José da Fonseca e Silva Garcez, que hoje exerce igual
cargo no concelho do Cartaxo.
Na villa de Rio Maior
não ha hospital, a irmandade da misericordia porém tem um pequeno albergue onde
recolhe os pobres que por aquella villa vão em direcção ás Caldas da Rainha,
que são em grande numero, especialmente nos mezes de maio a agosto. O albergue
de que fallo não tem nenhuma condição hygienica ; collocado em uma casa velha,
sem ventilação, tem apenas uma tarimba onde os pobres e doentes descansam o
tempo que ali se demoram, valendo-lhes a benignidade da estação, porque se
houvessem de ali soffrer os rigores de uma noite de inverno, julgo que a maxima
parte seriam cadaveres no dia seguinte. No entanto os actuaes mesarios da
misericordia procuram melhorar as tristes condições d’este albergue, applicando
para este fim algumas sobras da irmandade e promovendo donativos dos habitantes
caridosos do concelho para supprimento da despeza que não poder effectuar-se
pelas forças do cofre da misericordia.
Muitas são as
necessidades d’este concelho, porém as que considero mais urgentes são as que
vou enumerar:
1ª A construcção da
ponte sobre o rio que fica ao sul da villa de Rio Maior;
2ª O acabamento da
canalisação de agua para o chafariz que n’aquella villa foi mandado fazer pelo
governo;
3ª Continuação da
estrada que d’aquella villa vem para Santarem, bifurcando-se, se tanto for
possivel, um ramal para o Cartaxo;
4ª A factura de uma
estrada que ligue Rio Maior com Alcobaça, com a qual muito utilisarão alem dos
povos d’estes dois concelhos muitos outros d’aquellas localidades;
5ª Limpeza das areias
da ribeira do Outeiro, expropriando o assude que se acha ao fundo da mesma
ribeira, que tem sido causa de se estragarem as ferteis terras que ali ha.
Dotado pois d’estes
melhoramentos, o concelho de Rio Maior poderá no futuro ser um dos primeiros
concelhos do districto.”
Um pouco mais à frente, nas tabelas de resumo, pode-se ter
uma noção do número de pobres que havia em Rio Maior. Em Rio Maior haviam 14
pobres dos quais 8 se dedicavam à mendicidade (No distrito de Santarém haviam
1.565, dos quais 995 exerciam a mendicidade).
Aqui está mais um contributo importante para sabermos um pouco mais sobre a história do concelho de Rio Maior e, até, dando pistas para se pesquisar sobre outros concelhos da região de Santarém. Muito obrigado Américo.
ResponderEliminarManuel Sá
Bom dia.
ResponderEliminarO artigo completo, pode ser consultado em:
http://books.google.pt/books?id=XsxOAAAAYAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false