Em Malaqueijo, ainda existem vestígios de alguns fornos de
cal em bom estado de conservação.
O forno que se encontra em Casais da Arroteia é um exemplar
em muito bom estado.
A produção de cal é uma indústria muito antiga e teve o seu
apogeu no século XIX, início do século XX. Um dos motivos que contribuiu para o
desenvolvimento desta indústria foi a proliferação do uso do adobe na
construção civil que é produzido a partir de cal e areia (tradicionalmente,
para uma medida de cal, juntava-se três medidas de areia). De notar que já nas
ruínas da Villa Romana de Rio Maior foi identificado o uso de adobe.
O uso do adobe na construção civil foi desaparecendo com o
surgimento de novos materiais, como o tijolo de barro vermelho, o cimento e
outros.
Com os novos métodos de construção, veio o abandono dos
fornos artesanais de cal.
O primeiro passo para a produção de cal, começa nas
pedreiras de calcário. A pedra é extraída, limpa e depois é partida com o uso
de martelos de forma a ficar em pequenos blocos. Assim, a pedra está pronta
para entrar no forno.
O forno possuía planta circular, com a base mais larga que o
topo. A parte superior tem aberturas para permitir a saída de fumos. Normalmente
construía-se o forno junto a um desnível do terreno para este possuir duas
aberturas: Uma inferior para permitir alimentar a fogueira e outra superior,
para permitir a entrada da pedra.
A pedra proveniente da pedreira era descarregada no exterior
do forno e depois de selecionada de acordo com o seu tamanho, era atirada para
o interior pela abertura superior. Primeiro colocavam-se as pedras de maior
dimensão, para fazer a “enforma”, que é a construção de uma abóbada de modo a
permitir manter a fogueira no seu interior. Depois desta abóbada feita com as
pedras maiores, acabava-se de encher o forno com as restantes pedras até à
abertura superior. Para o forno ficar mais estável, a pedra mais pequena era
depositada junto às paredes do forno. De modo a permitir alimentar o fogo,
mantinha-se uma passagem na “enforma” para a abertura inferior. A abertura
superior era tapada com barro amassado para conservar o calor no interior do
forno.
O forno precisava de ser aquecido muito lentamente para as
pedras calcárias não rebentarem, ficando estas inicialmente com uma cor negra (operação de
“defumação da pedra”). Com o aumento gradual da temperatura, as pedras
calcárias passam a apresentar um tom vermelho vivo (a pedra está em “calda”).
Quando a pedra passa a ficar com um aspeto mais amarelado, o fogo já pode ser
aumentado porque a amálgama de pedra recém-caldeada, já suporta temperaturas
superiores. Quando o fumo que saía pelos orifícios superiores passava da cor
negra para o branco, significava que a pedra estava cozida e o fogo não precisava
mais de ser alimentado. Normalmente a “fornada” demorava três dias e três
noites em que era necessária uma constante manutenção do fogo.
O arrefecimento do forno demorava cerca de um dia.
Normalmente, a cal resultante da cozedura do calcário era
peneirada para remover impurezas antes de ser vendida.
Muito interessante. Traz-me à memória que, uma vez, era eu rapaz, fui com o meu tio-avô a Malaqueijo, de carroça, puxada por um burro, desde o Vale de Santarém, para levarmos uma carrada de cal, que ele precisava para umas obras. Saímos do Vale pela manhã e regressámos já após o almoço, que foi pelo caminho, debaixo de uns pinheiros, que o tempo já levou, depois de Almoster. Belos tempos.
ResponderEliminarMuito interessante este post, como muitos outros do Cidadania.
Abraço,
Manuel Sá
Obrigado pelo seu comentário.
ResponderEliminarAbraço, Américo.