quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Forno de Cal em Malaqueijo

Em Malaqueijo, ainda existem vestígios de alguns fornos de cal em bom estado de conservação.
O forno que se encontra em Casais da Arroteia é um exemplar em muito bom estado.

 
A produção de cal é uma indústria muito antiga e teve o seu apogeu no século XIX, início do século XX. Um dos motivos que contribuiu para o desenvolvimento desta indústria foi a proliferação do uso do adobe na construção civil que é produzido a partir de cal e areia (tradicionalmente, para uma medida de cal, juntava-se três medidas de areia). De notar que já nas ruínas da Villa Romana de Rio Maior foi identificado o uso de adobe.
O uso do adobe na construção civil foi desaparecendo com o surgimento de novos materiais, como o tijolo de barro vermelho, o cimento e outros.
Com os novos métodos de construção, veio o abandono dos fornos artesanais de cal.
O primeiro passo para a produção de cal, começa nas pedreiras de calcário. A pedra é extraída, limpa e depois é partida com o uso de martelos de forma a ficar em pequenos blocos. Assim, a pedra está pronta para entrar no forno.
O forno possuía planta circular, com a base mais larga que o topo. A parte superior tem aberturas para permitir a saída de fumos. Normalmente construía-se o forno junto a um desnível do terreno para este possuir duas aberturas: Uma inferior para permitir alimentar a fogueira e outra superior, para permitir a entrada da pedra.

 
A pedra proveniente da pedreira era descarregada no exterior do forno e depois de selecionada de acordo com o seu tamanho, era atirada para o interior pela abertura superior. Primeiro colocavam-se as pedras de maior dimensão, para fazer a “enforma”, que é a construção de uma abóbada de modo a permitir manter a fogueira no seu interior. Depois desta abóbada feita com as pedras maiores, acabava-se de encher o forno com as restantes pedras até à abertura superior. Para o forno ficar mais estável, a pedra mais pequena era depositada junto às paredes do forno. De modo a permitir alimentar o fogo, mantinha-se uma passagem na “enforma” para a abertura inferior. A abertura superior era tapada com barro amassado para conservar o calor no interior do forno.
O forno precisava de ser aquecido muito lentamente para as pedras calcárias não rebentarem, ficando estas inicialmente com uma cor negra (operação de “defumação da pedra”). Com o aumento gradual da temperatura, as pedras calcárias passam a apresentar um tom vermelho vivo (a pedra está em “calda”). Quando a pedra passa a ficar com um aspeto mais amarelado, o fogo já pode ser aumentado porque a amálgama de pedra recém-caldeada, já suporta temperaturas superiores. Quando o fumo que saía pelos orifícios superiores passava da cor negra para o branco, significava que a pedra estava cozida e o fogo não precisava mais de ser alimentado. Normalmente a “fornada” demorava três dias e três noites em que era necessária uma constante manutenção do fogo.
O arrefecimento do forno demorava cerca de um dia.
Normalmente, a cal resultante da cozedura do calcário era peneirada para remover impurezas antes de ser vendida.




2 comentários:

  1. Muito interessante. Traz-me à memória que, uma vez, era eu rapaz, fui com o meu tio-avô a Malaqueijo, de carroça, puxada por um burro, desde o Vale de Santarém, para levarmos uma carrada de cal, que ele precisava para umas obras. Saímos do Vale pela manhã e regressámos já após o almoço, que foi pelo caminho, debaixo de uns pinheiros, que o tempo já levou, depois de Almoster. Belos tempos.
    Muito interessante este post, como muitos outros do Cidadania.
    Abraço,
    Manuel Sá

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  2. Obrigado pelo seu comentário.
    Abraço, Américo.

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