Massacre
Foi a 19 de Abril de 1506 (Fez ontem 506 anos) que se deu o
início do Massacre de Lisboa, também conhecido como Matança da Páscoa ou ainda
com Pogrom de Lisboa (Progrom é um ataque violento e maciço a pessoas com a
destruição dos seus bens). Nesta matança que se prolongou por três dias, uma
multidão perseguiu, torturou e matou centenas de pessoas acusadas de serem judias.
Árabes
A península Ibérica foi conquistada pelos Árabes entre os
anos 711 e 713. A este novo espaço foi dado o nome de al-Garb al-Andalus (daqui
advém o nome de Algarve). Na atual Estremadura portuguesa, desenvolveram-se os
centros urbanos de al-Usbuna (Lisboa) e de Santarin (Santarém).
Os vestígios da longa permanência muçulmana são
relativamente poucos, principalmente porque a política dos conquistadores
cristãos foi a de destruir cada localidade retomada aos árabes e a de queima
dos seus pertences. Mesmo assim, chegaram alguns vestígios árabes até aos
nossos dias como a atual igreja matriz de Mértola (Antiga mesquita).
Também no concelho de Rio Maior é difícil identificar um
vestígio que sem qualquer dúvida se possa caracterizar como muçulmano. Isto a
pesar das muitas lendas e atribuições de nomes árabes a algumas construções,
como a torre mourisca (S.J. da Ribeira), fonte mourisca (Assentiz), ...
D. Afonso Henriques nasceu em 1109 (ou 1108) e passa de
facto a governar o Condado Portucalense em 1128. Em 1145 conquista Leiria, em
1147 Santarém e no mesmo ano Lisboa. O Algarve foi a última porção de
território português a ser definitivamente conquistado aos mouros em 1249, no
reinado de D. Afonso III.
Para evitar abusos aos muçulmanos por parte dos cristãos,
ainda no século XII, D. Afonso Henriques outorgou aos mouros uma carta de fidelidade
(amizade) e segurança. Nesta carta o novo rei dava liberdade aos mouros e
garantia que a nenhum cristão seria reconhecido o direito de os maltratar.
Judeus
Acredita-se que os primeiros judeus chegaram à Península
Ibérica ainda durante o reino do rei Salomão (970-931 a.C.), com os comerciantes
de Tiro (fenícios).
As sucessivas invasões a Israel causaram a dispersão do povo
hebreu pelo mundo (Diáspora). Estes exilados fizeram crescer em grande número a
população judaica na Península Ibérica, na qual fundaram muitas comunidades e
contribuíram para o florescimento cultural, económico e científico.
Em Santarém a comunidade judaica era numerosa e próspera já
no período muçulmano. Estando Santarém no coração da lezíria e com uma
localização privilegiada, foi desde sempre um próspero centro agrícula e comercial
onde afluíram judeus. A Judiaria (bairro judeu) de Santarém constituiu uma das
sete comarcas definidas por D. Dinis (1279-1325) e foi reconfirmada por D. João
I (1385-1433). Em Santarém, os judeus dedicavam-se às atividades artesanais e
intelectuais.
Morte aos Hereges
O combate aos hereges, começou a tomar forma com um tratado
escrito pelo abade Pedro, que chefiava a abadia de Cluny em França, durante o
século XII. Ele afirmava que para eliminar a heresia do seio da Igreja Católica
era necessária uma purgação a realizar em quatro fases: Investigação, discussão,
achado e defesa. Assim, começou-se a desenhar a Inquisição.
A Inquisição entrou em decadência com o Renascimento (século
XV), mas em Espanha e Portugal ela foi revigorada, com a perseguição não apenas
dos hereges, mas sobretudo dos judeus.
Porque é que os judeus passaram a ser considerados ‘criminosos’?
No século IV o cristianismo tornou-se a religião oficial do
Império Romano, mas já no ano 325, o Concílio de Niceia culpava os judeus pela
morte de Jesus (esta acusação só foi retirada pelo Vaticano em 1965). Esta
hostilidade aos judeus advém em grande parte do ‘Novo Testamento’ em que existem
referências que podem ser entendidas como os judeus terem sido os culpados pela
morte de Jesus e de terem ligações com o diabo. Os pregadores cristãos
começaram a falar mal dos judeus e assim começaram a crescer os mitos da
ligação deles com rituais e atitudes satânicas. O anti-semitismo foi crescendo
cada vez mais sendo os judeus acusados de todos os males que ocorriam, como secas
e pestes. Os direitos e liberdades dos judeus começaram a ser restringidos.
A Inglaterra expulsou os Judeus em 1290 e a França em 1306.
A Espanha em 1391 assassinou cerca de 4 mil judeus em Sevilha. Para escapar à
morte, milhares de judeus espanhóis procuraram o batismo, embora muitos continuassem
a praticar a sua religião secretamente. Em 1478, o papa Xisto IV, autorizou a
criação oficial do Tribunal da Inquisição em Espanha. Como o confisco dos bens
dos acusados pela Inquisição era norma, esta passou a ser uma ferramenta usada
para o saque aos bens dos judeus. Em 1492 os reis espanhóis decretaram a
expulsão de todos os judeus que não aceitassem a imediata conversão ao
cristianismo. Quase 150 mil judeus atravessaram a fronteira e vieram para
Portugal.
Cristão Novos
Em Portugal os cristãos, muçulmanos e judeus mantinham uma boa
convivência.
O rei D. Manuel I decidiu casar com Isabel, filha dos reis
espanhóis que exigiram que Portugal expulsasse os judeus. Como os judeus eram
responsáveis por uma importante parcela da economia nacional o rei preferiu transformá-los
em Cristãos Novos por meio de um batismo forçado em 1497.
A violência explodiu em 1506, com o massacre de Lisboa,
conforme está descrito no início deste artigo.
Em 32 de Maio de 1536, o rei D. João III teve autorização do
papa para instalar a Inquisição em Portugal. A partir desta data foram mortos
muitos Cristãos Novos nos autos-de-fé da Inquisição e estes tribunais foram
usados para retirar os bens aos acusados que por muitos eram cobiçados.
Durante o período dos reis espanhóis (1580-1640) a
Inquisição teve de alargar a sua base de apoio e controlo da população. Foram
criados os conhecidos Familiares do Santo Ofício que tratavam-se de agentes
locais da Inquisição com a função de recolherem informação, denunciarem,
acompanharem a prisão e participarem no saque dos bens do condenado.
O Marquês de Pombal, foi dos poucos políticos que conseguiu
dominar a máquina da Inquisição e em 25 de Maio de 1773, acaba com a distinção
entre Cristãos Velhos e Cristãos Novos.
A Inquisição acabou oficialmente em 1821 em Portugal e em
1834 em Espanha.
Descobrimentos
Portugueses
Os descobrimentos Portugueses, foram o conjunto de viagens e
explorações marítimas realizadas entre 1415 e 1543 pelos portugueses.
Interessante é relacionar a fase de ouro da nacionalidade
portuguesa com a época de grande tolerância e boa convivência entre povos que aqui
habitavam. De notar que desde o final do século XIII os judeus vêm sendo
escorraçados das outras nações europeias e que tinham em Portugal um porto
seguro. No início do século XVI começaram os problemas também em Portugal,
coincidindo com o final da época dos descobrimentos.
Os judeus, mouros e gentes de outras terras que viviam em
Portugal estiveram sempre na frente das explorações marítimas com novos
conhecimentos e técnicas de navegação. Por exemplo, Abraão Zacuto que esteve em
Portugal foi o autor de um novo e melhorado Astrolábio e editou em 1496, numa
oficina em Leiria, as Tábuas Astronómicas para os anos de 1497 a 1500 (As
Tábuas permitiam aos navegadores orientarem-se pelas estrelas).
Rio Maior
Nesta altura e quem teve a paciência de ler esta síntese
histórica, deve-se estar a questionar da razão da existência deste artigo num blog relacionado com a região de Rio
Maior.
Só peço um pouco mais de paciência que a ligação está quase
a chegar.
Num censo realizado em 1527, identifica-se que em número de
vizinhos (vizinhos eram famílias e em média representavam 5 pessoas) a
distribuição na região era a seguinte: Arruda – 27; Outeiro – 13; Cortiçada –
6; Correias – 14; Rio Maior – 98; Arrouquelas – 5; Malaqueijo – 24; Assentiz – 13; Marmeleira – 11; Sourões – 14;
Alcobertas e Alqueidão – 40; Teira e Fonte Longa – 16 e Cabos – 6.
Parece-me um número muito reduzido de habitantes para uma
zona que se encontra muito perto de Santarém (perto mesmo para os meios de
locomoção da época) e para uma terra fértil em termos agrícolas, com muita
água, com um subsolo rico em minerais e na altura com muita e variada fauna.
Também existem relatos que não se coadunam com uma terra de
pequenas dimensões, como: D. Fernando (reinou entre 1367 e 1383) visitou várias
vezes Rio Maior para descansar e caçar; existe uma referência a D. Fernando ter
vindo para Rio Maior com a sua Côrte após assinada a paz com Castela; D. Pedro,
duque de Coimbra ficou em Rio Maior antes da batalha de Alfarrobeira (onde veio
a falecer); ...
Em Arrouquelas, por exemplo, enquanto em 1527 só foram
identificadas 5 famílas, existem relatos de nesta aldeia já ter havido: Uma possível
mesquita (vestígios encontrados por baixo da atual igreja); várias fontes de
mergulho muito antigas; um açude em estacaria de madeira associado a uma
azenha; uma fábrica de Tijolo Ladrilho; uma ferraria; um lagar; ...
Embora algumas destas referências possam não ser completamente
verdadeiras, quero é evidenciar o aparente desfasamento entre o número de
habitantes em 1527 e a importância e ocupação que as terras da região tinham.
Sabendo que esta região era habitada por mouros e judeus e
que a partir de 1506 começou o massacre, arresto de bens e destruição das
edificações dos Cristãos Novos, é muito provável que aqui também tenha havido
um massacre.
Continuando com o exemplo de Arrouquelas e com base no
artigo referenciado a seguir que se encontra no site da Junta de Freguesia de Arrouquelas, junto à igreja, existe
um local (os Mor Tórios) que segundo a lenda, houve aí uma grande mortandade.
Apesar desta época da história portuguesa ter partes
bastantes escuras, seria bom realizar um estudo mais exaustivo pois para
criarmos um futuro sólido e coerente é fundamental conhecermos o nosso passado,
pelo menos, para não voltarmos a cometer os mesmos erros.
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