Segue neste artigo uma crónica relativa às Salinas de Rio
Maior, no ano de 1793.
O livro é o “Memorias
de Literatura Portugueza, publicadas pela Academia Real Das Sciencias de
Lisboa. Tomo V. Lisboa na officina da
mesma academia. Anno M.DCC.XCIII.” e refere-se às Salinas de Rio Maior a
partir da página 279.
Neste artigo gostava de realçar:
- A pertença das salinas à Casa de Bragança, até que no
reinado de D. João IV, passaram para o Conde de Vimeiro que ficou a receber uma
quarta parte de todo o sal produzido.
- A existência de uma fonte de água salgada, em condições de
exploração, junto à aldeia ‘Pé da Serra’. Neste local terão existido as
primeiras salinas.
- O sal de Rio Maior era considerado o melhor de todo o
reino.
- O sal podia ser vendido em todo o lado, mas não para
Santarém (com exceção da freguesia de Rio Maior).
- Em 1793 as salinas já possuíam 350 talhos.
- O fundo do poço principal das salinas é de barro vermelho
endurecido e que de inverno tinha uma profundidade de 30 palmos (cerca de 6,6m).
A água era retirada do poço de forma manual e somente com o auxílio de dois
baldes.
- O poço principal das salinas passou a ter mais água
salgada após o terramoto de 1755.
- A produção de sal anual em Rio Maior era no final do
século XVIII normalmente de 400 moios (1 moio teve diferentes valores, embora
após D. Manuel I fosse adotado o valor de 1moio=790litros; O sal retirado das
salinas de Aveiro teve no entanto sempre a relação de 1moio=13,1litro).
“
Parte III
Das Marinhas da
Provincia da Estremadura.
XXVIII
Por tradiçaõ, e de
algumas posturas se conclue serem mui antigas as marinhas de Rio Maior; porém
ignora-se, quando principiáraõ, e o progresso, que tiveraõ: sómente consta de
hum Tombo feito há poucos annos, que ellas fôraõ sempre da Serenissima Casa de
Bragança, até á feliz acclamaçaõ do Senhor Rei D. Joaõ IV. No Reinado d’este
Soberano vendêraõ-se ao Conde de Vimeiro, de quem hoje saõ, e se lhe paga a
quarta parte do Sal, que ellas produzem. (a)
XXIX
Conserva-se na
tradiçaõ d’aquelles póvos, que pouco distante do sitio, onde hoje existem as
sobreditas Marinhas, ao Norte das mesmas, perto de huma Aldeia chamada Ao pé da
Serra, houveraõ antigamente algumas Marinhas; porém naõ pude descubrir as
cauzas, por que acabáraõ. No sitio d’estas observei no mez de Julho de 1790
huma fonte de agoa salgada, a qual de Inverno se confunde com hum pequeno
regato, que corre perto d’ella, e por todas as vizinhanças da dita fonte
observa-se huma grande florescência salina. Persuado-me, que se poderaõ
restabelecer as antigas Marinhas, e talvez seriaõ mais vantajosas, que as
actuaes; porque se podia fazer hum maior numero de talhos, e as agoas de
Inverno lhes fariaõ menor damno.
XXXX
O Sal das Marinhas de
Rio Maior prefere na bondade ao de todas as d’este Reino, muito principalmente
para a salgação, por ser misturado com huma menor quantidade de saes muriáticos
térreos. O produto anual d’estas Marinhas he ordinariamente de 400 moios e
d’aqui he exportado para o termo de Cadaval, Obidos, Alcobaça, Leiria, e
outros; porêm naõ póde ser vendido no termo de Santarem, exceptuando a
freguesia de Rio Maior.
(a) Nas faldas da Serra de Rio Maior ao Norte d’este, e Nascente d’aquella, seis legoas de distancia do Mar da Pederneira, observaõ-se humas Marinhas, que tem 350 talhos, e fazem parte da riqueza d’este paiz. Saõ estas formadas em hum plano, que representa ser quasi hum paralelogramo cercado de comaros de huma terra solta: quasi em huma das extremidades d’este plano da parte do Poente observa-se hum poço, que tem d’altura, contando do fundo até onde costuma encher-se no tempo de Inverno, trinta palmos. He o fundo d’este poço de hum barro vermelho muito endurecido. Tem duas nascentes d’agoa salgada sempre perennes, huma do Norte, outra do Nascente, e lançaõ agora huma maior quantidade de agoa, do que antes do Terremoto. Empregaõ-se continuamente dois homens em tirar a agoa do poço com muito trabalho, e pouca vantagem; porque he tirada por dois baldes. Nada há aquí d’artificio, pelo qual se podia despejar a agoa com menos trabalho, e em maior quantidade.
“
Pode saber mais sobre as Salinas de Rio Maior, em:
http://rio-maior-cidadania.blogspot.pt/2010/06/salinas-de-rio-maior.html
(a) Nas faldas da Serra de Rio Maior ao Norte d’este, e Nascente d’aquella, seis legoas de distancia do Mar da Pederneira, observaõ-se humas Marinhas, que tem 350 talhos, e fazem parte da riqueza d’este paiz. Saõ estas formadas em hum plano, que representa ser quasi hum paralelogramo cercado de comaros de huma terra solta: quasi em huma das extremidades d’este plano da parte do Poente observa-se hum poço, que tem d’altura, contando do fundo até onde costuma encher-se no tempo de Inverno, trinta palmos. He o fundo d’este poço de hum barro vermelho muito endurecido. Tem duas nascentes d’agoa salgada sempre perennes, huma do Norte, outra do Nascente, e lançaõ agora huma maior quantidade de agoa, do que antes do Terremoto. Empregaõ-se continuamente dois homens em tirar a agoa do poço com muito trabalho, e pouca vantagem; porque he tirada por dois baldes. Nada há aquí d’artificio, pelo qual se podia despejar a agoa com menos trabalho, e em maior quantidade.
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Pode saber mais sobre as Salinas de Rio Maior, em:
http://rio-maior-cidadania.blogspot.pt/2010/06/salinas-de-rio-maior.html
No mesmo sec XVIII, existe referência às virtudes medicinais do sal de Rio Maior feitas pelo médico de D. Afonso V (rei que além do referido recebimento de 1/4 do total de produção e deter o monopólio da venda, possuia ali 5 talhos), Francisco da Fonseca Henriques (1665-1731)por alcunha o Mirandela, em Aquilégio Medicinal (1726, 99):
ResponderEliminar“ No lugar do Riomayor, termo da Vila de Santarém, distante do mar seis léguas, rebenta um olho de água salgada, de que se fabrica sal, muito mais activo que o das marinhas, de que ordinário se us; o que procede de passar esta água por minerais imperfeitos, e salinos, como pode ser o salitre, a pedra hume, e a caparrosa, que todos tem parte salida de grande agudeza. E se se averiguar de qual dos minerais era este sal, podia ter seus usos medicinais; e ainda nesta incerteza, nos parece , que esta água, e o sal que nela se fabrica, terão virtude para corroborar o estômago, e para vómitos, e diarreias procedidas de relaxação….”
http://purl.pt/22614/2/sa-6255-p_PDF/sa-6255-p_PDF_24-C-R0150/sa-6255-p_0000_capa-capa_t24-C-R0150.pdf (pág. 133 do pdf)
Curiosamente o sal de Rio Maior é presentemente promovido pelo vendedor na Alemanha e Austria, como além de produto gourmet (titula-o como um dos melhores do mundo), e como tendo pretensamente acção medicinal, citando um naturopata.
http://www.quellsalz.at/36-0-Salz.html
http://www.em-inntal.de/Quellsalz-aus-Portugal
http://www.biotraxx.de/quellsalz.html
No inicio do sec seguinte, em 1810, Dr. Francisco Tavares, descreveu-as: “ Ao lado setentrional do lugar de Rio Maior […] há uma pequena planície cercada pouco elevadas colinas [...] No meio desta há um poço empedrado de pedra ensosso, que tem a profundidade de cerca de 25 palmos abaixo da superfície do plano que o rodeia, o qual está todo dividido em pequenos tanques pertencentes a diversas proprietários [...]a Água que o poço contém é sumamente salgada, e dela se fabrica sal comum em grande abundância” O autor refere ainda outra nascente da mesma natureza no “sítio chamado da Marinha Velha; porque segundo antiga tradição houvera ali um poço de cuja água também se fabricava muito sal …”
Muito obrigado, mais uma vez, pelo seu comentário.
EliminarEstá cheio de dicas e sugestões para se poder aprofundar este tema.