Entre Setembro de 1797 e Julho de 1798 propagou-se por toda
a região de Santarém a epidemia da “febre de mau caráter”.
Esta epidemia ficou atribuída aos ventos predominantes de
Norte e Noroeste que traziam os ares da Vala de Asseca (nome que toma o rio
Maior ao passar na zona de Santarém) e do paúl de S. António. Nessa zona havia
uma prisão com condições de higiene muito más e que servia como ponto de
partida para as epidemias. Existem relatos de despejos diretos para o rio Maior
dos detritos de uma fábrica de peixe e carne, duma fábrica de curtumes e de
outra de aguardente que em muito contribuíam para a má qualidade da água na
altura.
Destas epidemias, foram propostas 6 medidas:
- Limpeza das valas, com especial referência à Vala da
Asseca (rio Maior)
- Limpeza das ruas das vilas e colocar as imundices a grande
distância das povoações.
- Mover o Hospital de Santarém para outro edifício, ou
melhorar as condições de asseio do mesmo.
- Maior vigilância à limpeza da cadeia pública de Santarém e
melhorar o ar da mesma.
- Maior controlo nos alimentos que são vendidos e punição
dos mercadores que vendem alimentos impróprios aos mais pobres.
- Em Rio Maior sugere-se a construção de uma nova fonte para
evitar que o povo beba água de poços.
Entre Junho e Novembro de 1811, surgiu em toda a região de
Santarém e arredores uma epidemia de febre tifoide, o que levou muitas pessoas
à miséria pela perda de bens e parentes.
A febre tifoide é uma doença infetocontagiosa causada pela
ingestão da bactéria Salmonella em alimentos ou água contaminada.
O contágio e propagação da febre tifoide são facilitados por
existência de esgotos sem tratamento, água de má qualidade e acumulação de
lixos.
Desde 1853 que a cólera grassava em Portugal, principalmente
no Norte de Portugal. Em Outubro de 1855 aparecem os primeiros casos em Lisboa
o que levou a que as famílias abastadas fugissem para o campo.
Em Rio Maior, entre 1 e 23 de Julho de 1856, morreram 100
pessoas devido a esta peste. Existem referências a grandes focos de cólera em
Rio Maior, Assentiz e Azambujeira.
A cólera é uma infeção intestinal aguda causada pela
bactéria Vibrio Cholerae que produz uma enterotoxina que causa diarreia. O
Vibrio Cholerae é transmitido principalmente através da ingestão de água ou de
alimentos contaminados.
A contaminação de rios ocorre pelo tratamento inadequado da
água e dos esgotos.
A partir de Setembro de 1857 surge uma grande epidemia de
febre-amarela (só em Lisboa morreram 1932 pessoas).
A febre-amarela é uma doença infecciosa transmitida por
mosquitos contaminados por um flavivírus. As águas estagnadas favorecem a
propagação dos mosquitos e consequentemente a propagação da febre.
No início do século XX, para além da febre tifoide, no
distrito de Santarém havia casos de sarampo, tuberculose, gripe, difteria,
melitococia, varíola, carbúnculo, tosse convulsa e lepra.
A tuberculose sempre foi uma doença que muita preocupação
causa nas pessoas, mesmo nos dias de hoje. Só em 1839 a doença foi batizada
como tuberculose, embora já fosse conhecida desde a Grécia antiga. A
tuberculose, chamada antigamente por “peste cinzenta” é uma doença infecciosa
causada pela bactéria Mycobacterium Tubercilosis. No final do século XIX a
morte de um dos elementos da família por tuberculose era estigmatizante, pois
estava associada a um defeito hereditário, ou mesmo à pobreza,
vendo-se os doentes excluídos de várias das atividades sociais.
Em Rio Maior e em pleno século XXI continuamos com vários
problemas que advêm da má qualidade do nosso rio e ribeiras. Pode-se dizer que
atualmente quase todas as casas têm água canalizada, mas essa água canalizada
bem de furos e/ou pontos de captação em rios. Se a qualidade da água captada se
continuar a deteriorar, mais elementos desinfetantes químicos têm de ser
adicionados o que não traz nada de bom para a nossa saúde.
Cabe-nos a nós estarmos vigilantes e não aceitarmos como
inevitável que para se gerar alguma riqueza se tenha de poluir. Na região de
Rio Maior temos alguma indústria que ainda polui, nem que seja de forma sazonal
o rio Maior, temos esgotos ainda não tratados a irem diretamente para o rio
Maior, temos o uso por vezes exagerado de produtos químicos na agricultura que
com as águas da chuva se infiltram nos terrenos e ribeiras e temos várias
instalações pecuárias que continuam com impunidade a fazer descargas diretas
para o rio Maior e sem qualquer tratamento. O problema não está só nas
populações que vivem perto destes focos de poluição pois os poluentes ao
escorrerem pelas ribeiras e rios vão para todo o lado e porque no fundo todos
bebemos da mesma água. Devíamos aprender com a história e ser mais exigentes
com a nossa saúde e bem-estar.