Infidelidade em Rio Maior da rainha D Leonor com o fidalgo
da Corunha, João Fernandes de Andeiro, contra o rei D. Fernando.
Este conto está narrado em ‘Chronica de El-Rei D. João I”
por Fernão Lopes, na página 20.
Pode ser lido na integra em http://purl.pt/416/1/.
Aqui neste meu artigo, vou tentar dar uma imagem mais
abrangente do acontecimento.
O rei D. Fernando (N 31-10-1345; F 22-10-1383), com cognome
de O Formoso mas também O Inconsciente, teve um início de reinado marcado pela
política externa, já que com a morte de D. Pedro I de Castela (morreu sem
deixar herdeiros masculinos), D. Fernando declarou-se herdeiro do trono contra
outros pretendentes, como D. Henrique de Trastâmara. Em 1371 é assinado um tratado
de paz em que entre outros pontos D. Fernando é prometido a D. Leonor de
Castela.
Mas nessa altura D. Fernando apaixona-se pela mulher de um
dos seus cortesãos, D. Leonor Teles de Menezes. Rapidamente o casamento de D.
Leonor com João Lourenço da Cunha é anulado, existe um casamento em segredo
entre o rei D. Fernando e D. Leonor, existe posteriormente um casamento público
a 15 de Maio de 1372 e D. Leonor de Castela é prontamente prometida a Carlos
III de Navarra.
A paz com Castela é conseguida e D. Fernando dedica-se a
reparar e construir castelos, promulgação da Lei das Sesmarias (desenvolvimento
agrícola), alargar as relações mercantis com o estrangeiro, desenvolver a
marinha, criação da Companhia das Naus,...
D. Leonor torna-se cada vez mais influente junto do rei,
influenciando a sua intervenção nas relações com o exterior. D. Fernando não
consegue ter uma governação forte havendo um degradar do ambiente político
interno e a corte é alvo constante de intrigas.
Aqui aparece um novo personagem, João Fernandes de Andeiro,
fidalgo galego natural da Corunha (região de Andeiro-Cambre). Apoiante do rei
D. Fernando quando este invadiu a Galiza para conseguir o trono da Castela,
teve-se de refugiar em Inglaterra (pois o monarca português não saiu
vitorioso). A partir de 1372 começa a fazer viagens a Portugal e aí apaixona-se
pela rainha D. Leonor, tendo com ela um romance. Este romance era conhecido por
todos na corte e crescia o desejo de vingança entre os nobres contra o conde
Andeiro por este desonrar o rei dormindo com a rainha. No entanto era difícil
cumprir a vingança, pois o conde Andeiro andava sempre guardado por muitos e
bons fidalgos e quem tomasse a iniciativa, para além de arriscar a vida iria
perder todos os seus bens caso sobrevivesse.
Aqui começa a história envolvendo Rio Maior.
O Conde D. João Afonso, 4º Conde de Barcelos e 1º Conde de
Ourém, irmão da rainha D. Leonor, regressa de Castela onde estivera preso e
logo soube das queixas que recaíam sobre a irmã, ficando determinado em matar o
conde Andeiro.
Vai então ter com o rei D. Fernando que se encontrava
hospedado no paço de Rio Maior, junto com a rainha, ao regressar de uma batalha
que houvera em Elvas. Isto deve de se ter passado no início de 1379.
Numa noite o irmão da rainha saiu com os seus companheiros e
ficaram a aguardar escondidos pela chegada do conde Andeiro para o matar. Eis
que vem o conde Andeiro sozinho a cavalo e com uma tocha na mão a chegar a Rio
Maior para se encontrar com a rainha. Os que o esperavam para atacar
inquietaram-se e fizeram barulho o que levou ao conde Andeiro a recear
continuar o caminho e decidir voltar atrás.
Existe quem conte a história de outra maneira dizendo que a
rainha ao saber das intenções do irmão o convidou a ficar num dos quartos do
paço de Rio Maior, recebendo-o muito bem e oferecendo-lhe presentes para este
desistir do seu objetivo e assim permitir que o conde Andeiro escapasse.
Após este episódio, parte o rei e a sua comitiva para
Santarém e nisto morre o rei de Castela, D. Henrique de Trastâmara, em 29 de
Maio de 1379. O conde Andeiro é enviado a Castela como embaixador o que mais
inquietou os nobres portugueses.
Com a morte de D. Henrique de Trastâmara volta a haver uma
nova tentativa de D. Fernando para governar Castela. Em Agosto de 1382 a paz é
acordada com o Tratado de Elvas em que Beatriz, filha de D. Fernando é
prometida ao filho do novo rei de Castela, D. João I de Castela (embora ela
viesse a casar com o próprio rei D. João I). Esta união era um verdadeiro
decreto de anexação de Portugal pela coroa de Castela o que não foi bem
recebida pela nobreza portuguesa. Neste tratado também ficou estipulado que os
castelhanos devolveriam os homens e navios que se encontravam aprisionados, bem
como as localidades que tinham sido tomadas.
O conde Andeiro é alvo de várias tentativas de assassinato,
mas de todas consegue sempre escapar ileso.
A 22 de Outubro de 1383, o rei D. Fernando morre. A rainha
D. Leonor é nomeada regente do reino em nome da filha D. Beatriz e de D. João
de Castela (com quem se casara). A independência de Portugal estava em risco.
D. João, mestre de Avis e irmão bastardo de D. Fernando,
apoiado por um grupo de nobres, entre os quais Álvaro Pais e D. Nuno Álvares
Pereira, assassinou o conde Andeiro a 6 de Dezembro de 1383 (na realidade o
mestre de Avis feriu de morte o conde Andeiro, mas este só acabou por morrer
com uma estocada de Rui Pereira) e iniciou o processo de obtenção da regência
em nome do infante D. João (meio irmão do mestre de Avis, filho de D. Pedro I e
D. Inês de Castro).
D. Leonor refugia-se em Alenquer e mais tarde em Santarém
(cidades fiéis à rainha).
Durante a crise de 1383-1385, vive-se em Portugal uma
autêntica guerra civil em que umas cidades são por D. Leonor, outras por D.
Beatriz e seu marido, outras pelo mestre de Avis e ainda outras cidades que se
mantiveram neutras.
D. Leonor abdica da regência em benefício da sua filha e de
seu marido João I de Castela.
A 6 de Abril de 1385 as cortes portuguesas reunidas em
Coimbra elevam o mestre de Avis a rei de Portugal, como D. João I. Inicia-se
assim uma guerra feroz com Castela.
As sucessivas batalhas acabam com a decisiva batalha de
Aljubarrota em que Castela teve de se retirar do combate e a estabilidade da
coroa de D. João I ficou solidamente garantida.
D. Leonor refugia-se no Mosteiro de Tordesilhas, perto de
Valhadolide, onde segundo alguns historiadores veio a falecer em 1386.
Sobre a descendência, D. Fernando teve uma filha de um
relacionamento anterior ao seu casamento, D. Isabel. D. Leonor teve um filho do
primeiro casamento, Álvaro da Cunha. D. Fernando e D. Leonor tiveram três
filhos: D. Beatriz de Portugal que casou com o rei D. João I de Castela; D.
Pedro que morreu aos cinco anos de idade; D. Afonso que morreu após o quarto
dia do seu nascimento.
A descrição deste paço de Rio Maior, normalmente associado a
um castelo, vem reforçar a ideia de que em Rio Maior existiu um castelo, na
zona em que atualmente se situa o edifício da antiga Escola Industrial, ao lado
da capela de Nossa Senhora da Vitória (por baixo da qual existem as ruínas do
antigo paço).
Esta fortaleza encontra-se relatada em alguns documentos e o
espaço serve perfeitamente para a edificação de uma pequena fortaleza como a do
castelo de Alcanede. A foto seguinte mostra a sobreposição do castelo de
Alcanede na zona em que se pensa ter existido o castelo de Rio Maior.
Pode saber mais sobre o Paço de Rio Maior, em:
Pode saber mais sobre o Alcaide-mor de Rio Maior em:
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