segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ricardo Tomás - Escultor

 
Ricardo Tomás, nasceu em Lisboa a 9 de Janeiro de 1968. É casado, tem um filho e mora em Ribeira de Santo André, Asseiceira.
Concluiu o Curso de Formação Profissional de Jovens na área de Serralharia na Companhia de Carris de Ferro de Lisboa (carris). Trabalhou durante mais de 10 anos como serralheiro na Estação da Pontinha (Carris) onde aprefeiçou a técnica de trabalhar o metal.
O gosto pela escultura surgiu e começou a executar obras com peças de sucata. A aceitação das suas obras foi grande o que o incentivou a aprofundar os seus conhecimentos nesta área.
Tirou o Curso Complementar de Artes Gráficas na Escola Secundária António Arroio, o Curso de Escultura em Pedra no Centro Internacional de Escultura de Pêro Pinheiro e frequentou o Curso de Desenho Livre do AR.CO..
Há cerca de 15 anos decide-se mudar para Asseiceira de modo a ter espaço para criar as suas esculturas. Aqui criou o ARTE (Atelier Ricardo Tomás Escultura).

 
Ricardo Tomás faz escultura em ferro e em pedra. Apesar da rudeza da matéria fria com que trabalha, consegue transmitir às suas esculturas os seus próprios valores de afeto, beleza, romantismo e tenacidade.
O referente concreto e constante na obra do escultor é o corpo feminino, que é o símbolo da vida e do futuro. É interessante recordar que os mais antigos objetos esculpidos (30.000 A.C.) representam também figuras femininas, conhecidas por Vénus e ligadas ao culto da fertilidade.

 
Com um realismo muito próprio, a obra de Ricardo Tomás tem um caráter único. O escultor procura a harmonia e o belo de modo a que as suas obras sirvam de inspiração e boa disposição para todos que com ela convivam.
 
O desenho surge para Ricardo, como um caminho para a obra, já que antes de começar a moldar a matéria-prima, existe muito trabalho preparatório necessário para que as suas ideias se possam refletir nas esculturas. As ideias é que interessam e é o que torna cada obra de arte única, já que a concretização é mais uma questão de técnica.

 
A arte era definida até há algumas décadas, como a expressão do belo, mas que implica imediatamente uma reflexão sobre o que é belo. Arte é contradição. O artista interpreta o mundo em que vive procurando o diferente onde a maioria das pessoas só consegue ver o igual.

 
Apesar da figura feminina ser uma constante, o artista também procura ter peças com um caráter mais simbólico, como se pode observar na figura em que a Pistola dispara Chaves que em vez de matarem, servem como elementos de abertura.

 
Ricardo Tomás, desde 1993 que mantém exposições quase consecutivas um pouco por todo o país. Várias galerias em Lisboa, Porto, Óbidos, Portalegre, Almada, Faro, Portimão, Barreiro, Parede, Leiria, Santarém, ... e claro em Rio Maior.
Atualmente em Rio Maior, podem apreciar-se as peças de arte numa exposição patente até ao dia 14 de Julho de 2012, no Cineteatro de Rio Maior, com o nome Ricardo’s em que Ricardo Tomás expõe esculturas e Ricardo Passos expõe pinturas.

 
A obra de Ricardo Tomás poderia ser apresentada em maiores dimensões e deveria ficar exposta em átrios, rotundas ou outros espaços de acesso públicos. As obras de arte colocadas no exterior não tornam apenas os espaços mais bonitos, mas são também um convite à reflexão e à democratização da própria arte.
O escultor já tem algumas ideias para uma obra de grandes dimensões ligada a Rio Maior que poderia ser aproveitada, acarinhada e patrocinada pela Câmara Municipal com a vantagem de apoiar um artista local.
Ideias e vontade de trabalhar não faltam ao Ricardo, pretendendo continuar a expor e a divulgar o seu trabalho. Não esconde a vontade de fazer uma escultura relacionada com Rio Maior.

Contactos de Ricardo Tomás
Telf: 965817439 – 243991047

Uma entrevista e video realizado pela Escola Superior de Artes e Design:
Uma entrevista em Bragança na Galeria História&Arte:

Pode visitar uma exposição em 360º fotografada por Manuel Teles, em:
Um video sobre a sua obra, em:

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Fontanário em Correias - Outeiro da Cortiçada

Em correias, Fráguas, existe uma bica de água que foi toda revestida a azulejos de figuras geométricas.

Esta fonte foi inaugurada em 25 de Setembro de 1983 pelo Presidente da Câmara de Rio Maior.
Na pedra gravada, pode-se ler: 'Esta obra foi iniciada pelo Senhor Manuel Sequeira Nobre. Acabada de construir e inaugurada no dia 25-9-1983 pelo atual presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, Joaquim Pereira de Deus'.

domingo, 17 de junho de 2012

A Guerra Peninsular - Invasões Francesas

A GUERRA PENINSULAR
 
Quando surgiram as invasões francesas, no início do século XIX, Rio Maior encontrava-se numa fase de desenvolvimento. As primeiras duas invasões, as de 1807 e 1808 não afetaram em muito as populações, mas a última (a de 1810-1811) foi bem sentida, pois aqui se travaram combates entre as tropas francesas e guerrilheiros nacionais. Nestes combates chegou-se a usar artilharia.


Massena comandava a 3ª invasão francesa e após a derrota sofrida nas Linhas de Torres Vedras, recuou para Pernes, Santarém. Com receio que as tropas aliadas (Portugueses e Ingleses) estivessem a concentrar grandes forças na região de Rio Maior, mandou o general Junot fazer um reconhecimento com 5.000 homens (Divisão Clausel do 8º corpo do exército francês, apoiada pela brigada Gratien, da divisão Solignac e cavalaria). A 19 de Janeiro de 1811 deu-se o confronto com o regimento de cavalaria 6 portuguesa e junto à antiga capela de São Gregório (já não existe, mas situava-se na estrada para Santarém, junto à ponte sobre a Ribeira de S. Gregório, na zona do Gato Preto), o general das forças de Napoleão, Junot, foi ferido com gravidade na face por um disparo de carabina.

 
Junot, duque de Abrantes recebeu os primeiros curativos sobre uma campa do adro da capela, mas devido aos ferimentos sofridos, o bravo general francês nunca se recompôs, ficando com sinais de demência.
Existe um documento (tomei conhecimento dele via um comentário deixado por um amigo a este artigo) que relata o acontecimento e pode ser consultado em:
Descrevo a seguir uma parte do “Jornal de Bellas Artes, ou Mnémosine Lusitana. Redacção Patriotica Num. II.”, de 1816, que relata o ferimento infligido a Junot.
Este é um relato de uma testemunha presencial,  adita do Estado Maior do Exército Francês.
“...
O Duque de Abrantes devia conduzir forças contra Rio Maior, a fim de expulsar dalli o inimigo, e observar as cercanias de Alcoentre. A 19 de Janeiro de 1811 á teste de cinco mil homens de infanteria, e trezentos cavallos, partio de Alcanede ás cinco horas da madrugada. O inimigo tinha constantemente na Villa de Rio Maior varios batalhões, e alguma cavallaria. O Duque mandou accommetter os entrincheiramentos, e a ponte; e em menos de meia hora fomos senhores da Villa, e expulso o inimigo em desordem (fanfarronada franceza: as tropas Anglo-Lusas tinhão ordem de não entrar em hum combate serio, razão porque retirarão). O duque impaciente de observar pessoalmente a direcção, que tomavão as columnas Inglezas, correo a galope a huma pequena eminencia além dos caçadores avançados. Neste momento foi gravemente ferido de huma balla, que o apanhou pelo rosto. Quatro Hussares Inglezes, que tinhão ficado de atalaia n’huma altura vizinha para observarem a nossa marcha, vendo aproximar-se alguns Cavalleiros, descarregárão as clavinas, e corrêrão a juntar-se á retaguarda dos seus, não imaginando, certamente, haverem em huma tal occasião ferido hum General em Chefe. A balla quebrou-lhe o osso proprio do nariz junto á sua articulação, e escorregou sobre o pómulo da face direita. O Duque de Abrantes conservou o maior sangue frio, apezar de se ver ferido em huma parte tão perigosa, em quanto se lhe poz o primeiro apparelho; e supportou o incommodo de voltar a cavallo ao seu Quartel General de Pernes, não obstante padecer immensas dores. O Cirurgião-Mór do 8º Corpo lhe fez immediatamente a operação de lhe incisar a face para extrahir a balla, que se achou inteiramente achatada pela resistencia, que experimentára ao resvalar sobre o osso maxilar. Poucos dias depois o mesmo Cirurgião-Mór pôde segurar ao exercito, que a ferida daquelle General não era mortal; porém não dissimulou, que podia cedo, ou tarde produzir graves, e funestas consequencias.”
Este artigo sugere que a arma que feriu Junot foi uma Carabina Baker e não um Bacamarte como referido em algumas publicações.
 

 
O ferimento de Junot em Rio Maior, também se encontra retratado pelos ingleses, no livro “History of the King’s German Legion”, de 1882.
Alguns reforços chegaram ao exército britânico por meados de Janeiro, e o General francês apercebeu-se que se estavam a tentar concentrar em Alcoentre. Isto induziu o Marechal Junot a conduzir um grupo avançado para Rio Maior a 18 de Janeiro, a fim de se inteirar do facto. Nesse dia ele avançou com uma considerável força de cavalaria e infantaria, forçando o terceiro esquadrão dos alemães a sair de Rio Maior, ocupando o lugar. O Marechal, em sua ânsia de obter informações, veio para a frente com os batedores, mas foi infeliz o suficiente para ficar ferido na face, vítima da carabina de um Hussardo chamado Dröge, que o inutilizou por um tempo considerável. No dia seguinte o inimigo retirou-se e os hussardos ocuparam as suas antigas posições. Durante o resto de Janeiro e todo o Fevereiro, nada de mais importante ocorreu, tirando alguns reencontros ocasionais com elementos avançados ou piquetes do inimigo, em que a cavalaria aliada quase sempre saiu vitoriosa.”

Este artigo é muito interessante, pois fica-se assim a conhecer o nome do hussardo que feriu Junot e que é Dröge. O atirador Dröge, pertenceu ao 1º Regimento de Hussardos da KGL.


A ‘King’s German Legion’ (Legião Alemã do Rei) era uma unidade militar britânica, organizada em 1803 e que era constituída maioritariamente por soldados hanoverianos (Muitos oficiais e soldados de Hanover, Alemanha, fugiram para o Reino Unido após a invasão francesa do Eleitorado de Hanover). Esta unidade especializada foi extinta em 1816.


Este mesmo ferimento ainda se encontra descrito pela mulher de Junot. Este artigo é muito interessante, pois relata o sofrimento de Junot e o vexame que sofreu por parte de Napoleão devido ao ferimento.
No livro 'Memórias da Duquesa de Abrantes, Madame Junot Vol VII' pode-se ler:
Começando na página 90
“...
Durante a minha estadia em Salamanca, recebi notícias do ferimento de Junot. A carta foi-me enviada por um jovem oficial, sobrinho do senador Casabianca. Ele como de costume, entregou-me a carta de Junot, mas era dificilmente legível; tinha sido escrita aproximadamente duas horas antes da operação.
‘Eu fui ferido’ disse Junot na sua carta, ‘na cara por uma bala que me partiu o nariz e entrou pela bochecha direita, parando ao bater contra o osso. Foi uma sorte pois se a bala viesse meia polegada mais para cima ou mais para a frente e eu tinha morrido. Assim sendo, devo apenas ter de me manter na cama por alguns dias e sofrer alguns minutos para extrair a bala.’
A 14 de novembro, Massena começou a retirada perante o Duque de Wellington, mas somente em janeiro é que ele ficou convicto no recuo. Ele então tentou enganar os ingleses fazendo demonstrações hostis e repetindo-as no flanco esquerdo do exército inimigo. O Duque de Wellington não estava para ser apanhado nesta armadilha, que de facto, dificilmente iria enganar mesmo um oficial novato. Infelizmente ele conhecia muito bem o estado precário e difícil em que se encontrava o exército francês. Ele opôs-se à grande missiva de reconhecimento que Junot comandava em pessoa, com os batedores de Brunswick, os batedores Hanoverian apeados e alguns esquadrões de outras tropas. Junot, acompanhado pelo General Boyer, o seu principal oficial, estava em cima do cavalo, a uma curta distância de Rio Maior e em frente a uma densa floresta. Um dos batedores de Brunswick posicionado na floresta, disparou contra Junot com uma carabina, e a bala entrou exatamente a meio do nariz. Junot não caiu; ele somente levou a mão à face e disse:
‘Por Deus, Boyer, estes amigos são melhores atiradores do que tu. Eles disparam contra um homem melhor do que tu contra uma lebre.’
Ele tentou continuar a cavalo, mas o sangue corria tão copiosamente que após alguns momentos ele desmaiou. Ele foi retirado do cavalo e transportado até à aldeia de Rio Maior. Aí ele desmaiou. Havia um terreno cercado ali perto; ele foi transportado até lá e pousado no relvado. O cirurgião chefe do exército chegou e aplicou a primeira compressa na ferida. Junot desmaiou novamente, enquanto a hemorragia estava a ser travada. Ao recuperar a consciência, ele teve um arrepio. Ele tinha sido transportado para o adro de uma igreja e onde o tinham colocado era uma campa!
Só no dia seguinte é que se pode realizar a operação de retirada da bala. O cirurgião chefe do oitavo corpo, chegou para realizar a operação. Para sua admiração, ele não conseguia descobrir a localização da bala. Após alguma procura, ele encontrou a bala alojada na parte arredondada do osso do maxilar da face esquerda. Os ossos do nariz estavam separados, mas não partidos. A bala penetrou tão profundamente no osso da face, que a incisão provocada pelas tenazes era visível na bala.
Quando o Sr. Malraison descobriu a bala e estava prestes a começar a operação, perguntou ao Junot se queria que a bala fosse retirada pelo interior ou exterior; sendo que por este último modo iria produzir uma cicatriz na face.
‘Não importa’, disse o Junot. No entanto ele foi informado que a cura da ferida no interior da boca estava em dúvida.
‘ Uma cicatriz a mais ou a menos, não me importa. Ainda me vou orgulhar dela’.
Apesar das graves consequências da ferida, só deixou pequenas marcas no exterior. Junot estava somente ligeiramente alterado pelas suas duas cicatrizes; a pequena protuberância no nariz era a principal causa da desfiguração.
Sobre o assunto do ferimento de Junot, tenho de relatar uma anedota altamente honrosa para o Lorde Wellington, em que mostra a sua disposição de um ponto de vista muito favorável.
O exército francês estava em completa retirada no momento em que Junot foi ferido. Entre os franceses as deserções eram frequentes e o tipo de terreno, permitia ao inimigo obter muitas informações, enquanto nós não tínhamos nenhumas; assim os ingleses sabiam muito bem o nosso estado, enquanto nós nada sabíamos sobre eles, ou nós próprios. O Lorde Wellington sabia sobre tudo o que se passava. Ele sabia de todos os infortúnios que assaltavam o exército de Massena e a escassez de alimentos era um deles. Este conhecimento levou o Lorde Wellington a mostrar atenção a um homem que admirava e do qual também recebia admiração e por quem eu estou extremamente grata. Ele endereçou ao Duque de Abrantes cujas tropas quase tocavam as suas, uma carta que a seguir transcrevo.
‘Senhor,
Soube com grande tristeza que tinha sido ferido; e eu peço que me faça saber se precisa de algo para proteger a sua ferida ou acelerar a sua recuperação.
Não sei se sabe as novidades sobre a Duquesa. No final do mês passado, ela teve um filho na Cidade Rodrigo. Ela partiu para Salamanca e pretende seguir para França no início deste mês (Janeiro).
Eu tenho a honra de continuar, Senhor, um seu muito obediente servo.
Wellington’.
O Junot agradeceu muito ao Lord Wellington pela sua gentileza, mas recusou a oferta contida na carta. Ao que me diz respeito, ele respondeu-me que tinha sabido do meu parto. De facto, ele já sabia desde o dia 25 de dezembro, o dia em que o Conde de Earlon se juntou a Massena.
...”
Começando na página 319
“...
Quando regressamos a Paris, no verão de 1811, Junot ainda sofria dos efeitos da ferida na face, que ele sofreu em Rio Maior, Portugal. A cicatriz era profunda e provocou uma grande alteração na sua aparência. O Imperador encontrava-se na altura muito irritável. Uma nuvem estava-se a formar sobre as nossas relações amigáveis com a Rússia, os negócios com Espanha iam mal e algo fermentava na Alemanha. O Imperador andava preocupado e este mal-estar aparecia com frequência em súbitas manifestações de mau-humor.
No primeiro domingo após a nossa chegada, Junot foi assistir a uma missa em St. Cloud. Quando o Imperador o viu, parou, desejou um bom dia e depois, com um ar examinador, disse:
‘Ah! Ah! Esta é a famosa ferida sobre a qual tanto falaram os jornais ingleses. Bom! Ficaste muito feio, Senhor Junot.’
Quando Junot me contou isto, percebi que ele tinha sido vexado. De facto, não era uma maneira justa de falar com um homem que embora sendo um General em Chefe, se expôs como um capitão de cavalaria em busca da sorte.
‘Porque é que não lhe respondeste duramente?’ perguntei eu ao Junot. ‘Isto vem de tu e outros terem uma atitude demasiado humilde para com ele. O Imperador nunca se aventurou a dizer algo desagradável para mim, porque ele sabe que eu responderia.’
‘Bom’, disse Junot, ‘ acredito que tenhas razão e se ele me disser novamente mais alguma coisa rude, ...’. Ele parou, mas eu sabia ao que ele se referia.
No domingo seguinte, o Imperador mais uma vez viu Junot, e fixando o olhar na marca deixada pela ferida, ele disse:
‘Meu Deus! Junot, ficaste mesmo feio!’
Junot ficou por uns instantes vermelho, como soube por Duroc que estava presente; mas recuperou a calma e disse: ‘Tenho uma opinião diferente, senhor. Eu pelo contrário, penso que melhorou o meu visual, porque recebi isto ao serviço de sua Majestade’.
O Imperador ficou perturbado ao receber este tipo de reprimenda, feita de maneira a ser impossível encontrar uma falha. Ele nunca mais falou com Junot sobre a sua ferida.
...”
Textos retirados do livro:



Temos mais referências às invasões francesas na zona de Rio Maior, como o nome da Quinta do Canhão em Boiças que se deve ao facto de ter ficado um canhão estacionado no morro interno à quinta.

Após a guerra, fixaram-se na região alguns dos soldados franceses e ingleses o que contribuiu para acelerar o desenvolvimento da então Vila de Rio Maior.

 
A região de Rio Maior não se viu envolvida na Guerra Peninsular somente neste episódio.
Como zona de passagem entre o Norte e o Sul de Portugal, existem relatos de tropas em movimento na região. É o caso da unidade do exército britânico à qual pertencia o Tenente-coronel Tomkinson que saiu de Rio Maior a 2 de Maio de 1809 (na altura da 2ª invasão francesa) a caminho do norte do país para combater o Marechal Soult. Tomkinson voltou a passar em Rio Maior no início de Outubro de 1810, fazendo parte do exército luso-britânico após ter travado a Batalha do Buçaco.
Embora não haja registos dos efeitos da guerra em Rio Maior, os franceses tinham por costume saquear, incendiar e destruir as aldeias e vilas por onde passavam. Os camponeses normalmente ficavam na miséria se não fossem mortos.
As tropas francesas tornaram-se peritas em encontrar os lugares onde os habitantes escondiam os seus bens (milho, vinho, azeite,...) pois não tinham outra forma de se alimentarem a si e aos animais que não fosse pilhando os bens das populações. Por exemplo em Alcobaça os habitantes já estavam habituados a esconder os bens dos frades que tinham exigências exorbitantes, mas os franceses chegavam a inundar os terrenos em redor das casas e escavavam nos locais por onde a água sumia pois era aí que provavelmente estavam as covas a onde se escondiam os alimentos. As casas também eram medidas por dentro e por fora à procura de divisões secretas.

 
As mortes foram muitas e há o registo de em 1811, na Benedita, haver um número anormal de mortes, muitas vezes sem os sacramentos da Igreja e com a causa da morte registada como “morreu por um tiro que lhe deram os franceses”. Em Abril de 1811 o espaço da Igreja da Benedita já não possibilitava mais sepulturas e até ao final desse ano tiveram de ser enterradas 56 pessoas no adro da igreja.
Existe um relato de um massacre cometido pelos Franceses em Arrifana, Santa Maria da Feira, que é particularmente brutal e pode ser lido na integra em:
Em resposta a uma ação de guerrilha cometida por populares “Na madrugada de 17 de Abril de 1809 o exército francês cerca e toma de assalto a pacata povoação de Arrifana. Quem oferece resistência ou ensaia a fuga é morto a tiro, à coronhada ou trespassado pelos sabres e baionetas dos soldados de Napoleão. Grande parte da população procura refúgio no interior da igreja que, no entanto, acaba por se revelar uma verdadeira ratoeira: os franceses obrigarão todos os homens válidos a saírem do templo, seleccionando em seguida um em cada cinco. Os “quintados” (assim ficaram conhecidos) são de seguida fuzilados pelos invasores. Quando estes partem deixam atrás de si a povoação em chamas e, empilhados no local do massacre, dispersos por campos e caminhos de tentativa de fuga e pendurados de cabeça para baixo em várias árvores, cerca de 70 mortos.”
Vários locais da região de Rio Maior também serviram de refugio a populares e há registo da Quinta de Assentiz ter servido como local de abrigo em 1807 (Durante a 1ª invasão chefiada pelo General Junot) e em 1810 (Durante a 3ª invasão chefiada pelo General Massena).

Na exposição permanente na Casa Senhorial Del Rei D. Miguel, Rio Maior, existem alguns vestíguos da Guerra Peninsular.

 
(1)    Sabre de Dragão, encontrado na zona do Rio da Ponte
(2)    Pontas de lança (Chuços), encontrados na Azinheira e Fonte da Bica
(3)    Pederneira de Carabina, encontrada na Villa Romana
(4)    Pedreneira de Carabina fabricada em Azinheira, encontrada na Azinheira.
(5)    Botão de fardamento Inglês, encontrado na Capela da Nossa Senhora da Vitória
(6)    Botão de fardamento Inglês, encontrado na Rua Serpa Pinto.


Resumo da Guerra Peninsular.
Ainda antes do início das invasões francesas, houve um evento marcante que foi a Campanha do Rossilhão (1793-1795) em que Portugal se aliou à Espanha e formaram a primeira aliança liderada pela Inglaterra contra a França revolucionária (a tomada da prisão da Bastilha, dá-se em 14 de Julho de 1789).
Com a subida de Napoleão Bonaparte ao poder, em 1799, a Espanha alia-se à França para dividir Portugal e atingir os interesses comerciais do Reno Unido da Grã-Bretanha e Irlanda.
Em Agosto de 1807, os representantes de França e Espanha em Portugal fazem chegar a D. João, o Príncipe regente, as suas imposições: Portugal tem de se juntar ao bloqueio continental a Inglaterra, declarar guerra aos ingleses, sequestrar todos os seus bens e prender todos os ingleses residentes.
1ª Invasão.

 
Na iminência da invasão, D. João fez saber a Napoleão que iria cumprir com os pedidos de França e a 30 de Outubro de 1807 chega mesmo a declarar guerra a Inglaterra. No entanto a 22 de Outubro último tinha assinado a Convenção secreta entre Portugal e Inglaterra que estabelecia a manobra Luso-Britânica de colocar a salvo a família real e o governo português no Brasil.
A 20 de Novembro sob o comando do General Jean-Andoche Junot, as tropas francesas chegam à fronteira portuguesa. A coluna invasora passa por Abrantes e Santarém, chegando exausta devido ao mau tempo a Lisboa no dia 30 de Novembro de 1807.
No dia 29 de Novembro (um dia antes da chegada de Junot a Lisboa) a família real e a corte portuguesa (cerca de 15.000 pessoas) fogem para o Brasil numa larga esquadra naval protegida por naus britânicas. O governo de Portugal ficou entregue a uma regência com instruções para não resistir aos invasores.

 
Em Espanha, a 19 de Março de 1808 o rei Fernando VII é forçado a abdicar e a reconhecer José Bonaparte como rei de Espanha.
A 9 de Maio de 1808, D. João, no Brasil, declara nulos todos os tratados de Portugal com a França, declara guerra aos franceses e amizade ao aliado, Grã-Bretanha. Começam as revoltas populares contra os franceses.
A 1 de Agosto de 1808, as tropas Britânicas começam a desembarcar perto da Figueira da Foz, juntando-se ás forças portuguesas de Bernardino Freire (14.000 Britânicos e 6.000 Portugueses).
Na sequência das vitórias da coligação Luso-Britânica nas batalhas de Roliça e do Vimeiro, é assinada a Convenção de Sintra em que o General Junot sai de Portugal.
2ª Invasão.
No início de 1809 os Britânicos, comandados por John Moore, passam a fronteira espanhola mas ao serem obrigados a retirar deixam a fronteira portuguesa a descoberto. O Marechal francês Nicolas Jean de Dieu Soult invade o país por Trás-os-Montes, chegando até ao Porto. Sob o comando do General Arthur Wellesley as tropas Luso-Britânicas reconquistam a cidade do Porto a 29 de Maio de 1809 expulsando o invasor para fora de território nacional.
3ª Invasão.
No início de 1810, sob o comando do Marechal André Masséna, teve início a terceira invasão francesa. Os invasores entraram pela região Nordeste de Portugal e marchavam em direção a Lisboa. Sofreram a primeira derrota na Batalha do Buçaco a 27 de Setembro de 1810. Masséna conseguiu reagrupar as suas tropas e continuou a marcha sobre Lisboa, sempre flanqueado pelas tropas Luso-Britânicas. Os franceses atingiram as Linhas de Torres a 14 de Outubro de 1810 onde foram derrotados e dali partiram em retirada, logo no dia seguinte.
4ª Invasão (ou acção de diversão).
Após o fracasso da 3ª invasão, Massena caiu em desfavor de Napoleão que entregou o comando do Exército de Portugal ao Marechal August Marmont.
Marmont juntou o seu exército ao do marechal Soult e assim conseguiram desmobilizar Wellington que cercava Badajoz. Mas as tropas de Wellington conseguem conquistar Ciudade Rodrigo e realizar nova ofensiva sobre Badajoz.
Bonaparte ao recear a perda de controlo, manda Soult socorrer Badajoz e Marmont fazer uma manobra de diversão, realizando uma incursão sobre Portugal com 18.000 homens. Assim a 3 de Abril de 1812 os franceses reentram em Portugal. As milícias portuguesas conseguem proteger Almeida, obrigando os Franceses a irem para Norte, para o Sabugal. Os aliados conseguem conquistar Badajoz a 7 de Abril de 1812 e marcharam de imediato em socorro da Beira portuguesa. Marmont sai do Sabugal e chega a Espanha a 24 de Abril de 1812.
A contra-ofensiva.
Os exércitos Britânico, Português e Espanhol unidos, começaram uma campanha para retirar os franceses da Península-Ibérica. Seguiram-se uma série de batalhas em território francês até à vitória na batalha de Toulouse, em 10 de Abril de 1814, que colocou um fim à Guerra Peninsular.



A Construção das Linhas de Torres.



Este sistema defensivo foi criado para evitar o avanço das tropas francesas sobre Lisboa, o que de facto se veio a verificar quando em 1810 o General Massena foi aqui travado.
Devido a Lisboa se encontrar na margem direita do rio Tejo e na altura sem pontes, a entrada em larga escala de uma coluna militar só se poderia fazer pelo Norte.
Arthur Colley Wellesley, Duque de Wellington é conhecido como o fundador das Linhas de Torres ao escrever o Memorando de 20 de Outubro de 1809.
Wellington deixou as operações militares que dirigia em Espanha e veio a Portugal para criar um sistema defensivo que garantisse o domínio de Lisboa e também que permitisse o embarque seguro do exército inglês em caso de derrota. Apoiado em reconhecimentos anteriores (como o do português José Maria das Neves) e após uma breve vista pessoal que efectuou ao terreno, Wellington estabeleceu uma série de zonas que deveriam de ser imediatamente fortificadas, indicando também os eixos de comunicação a serem usados para as movimentações de tropas, bem como o número e posicionamento dos efetivos militares. Solicitou igualmente ao engenheiro Richard Fletcher que continuasse o estudo do terreno para a implantação de mais fortificações.
Logo no dia 3 de Novembro de 1809 começaram as obras em S. Julião, no dia 4 de Novembro em Sobral de Monte Agraço e em 8 de Novembro em Torres Vedras.
Não contente com o ritmo das obras, Wellington realizou em Fevereiro de 1810, uma nova visita ao terreno com o intuito de pormenorizar o plano de defessa e apressar as obras que nos dias seguintes ganharam novo ritmo.

 
Arthur Wellesley veio a ser uma personagem de destaque em Portugal no domínio político, militar e cultural, sendo-lhe atribuídos os títulos de Conde de Vimeiro, Marquês de Torres Vedras e Duque da Vitória. Na Grã-Bretanha, Wellington foi aclamado como um herói nacional, chegando mesmo o rei Jorge IV a insistir na sua nomeação como primeiro-ministro em 1827.

Resumo da biografia de Junot.

Jean-Andoche Junot, nasceu a 24 de Setembro de 1771 em Bussy-le-Grand, França.
Iniciou os estudos em Châtillon, seguiu direito em Paris e em 1971, ao eclodir a Revolução Francesa, alistou-se no Exército. Chegou à patente de Sargento e participou no Cerco de Toulon de 1793 em que foi escolhido como ajudante-de-ordens de Napoleão Bonaparte, na Campanha a Itália (1798-1800), na Campanha no Egito (1800-1801), na Áustria (1805), na Guerra Peninsular (1807-1808 e 1810-1811) e na Campanha da Rússia (18013).
Ocupou várias funções, como: Governador de Paris (1801); Representante diplomático em Lisboa (1805); Governador-geral de Parma (1805); Governador militar de Paris (1806); Indicado como Governador-geral de Portugal (1808); Governador da Llíria (1813).
Foi ferido por três vezes (Na Campanha da Itália, 1798, foi ferido na cabeça, o que lhe causou alterações no pensamento e caráter; Na Campanha no Egito, 1801, foi ferido num duelo e capturado; Na Guerra Peninsular, 1811, ficou gravemente ferido na face e com sinais evidentes de demência).
Casou com Laurette Martin Permond em 1800 e teve duas filhas e dois filhos: Joséphine Junot d’Abrantès (1802); Constance Junot d’Abrantès (1803); Louis Napoléon Andoche Junot, 2º Duque d’Abrantès (1807); Andoche Alfred Michel Junot, 3º Duque d’Abrantès (1810).
Foi feito Duque de Abrantes em Março de 1808, após ter sido indicado como Governador-geral de Portugal resultante da conquista de Lisboa em finais de 1807.
Acabou de falecer em 29 de Julho de 1813, com 41 anos, em Montbard (França), após complicações resultantes de uma tentativa de suicídio. Com sinais avançados de demência, atirou-se de uma janela, fraturou uma perna e tentou amputar-se com uma faca de cozinha.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Estátua do salineiro vandalisada

A estátua do salineiro foi vítima de vandalismo. O rodo foi roubado.
Rodo é um utensílio em madeira, utilizado nas limpezas iniciais dos talhos e também era usado para raspar e juntar o sal produzido.
 

Ver mais informação sobre a estátua em:

domingo, 10 de junho de 2012

Barroco de Arrifana - Arrouquelas

O Barroco de Arrifana fica na encosta Sul de Arrouquelas.
Na realidade, aqui barroco não se refere ao estilo artístico que floresceu no século XVIII, mas ao seu significado de Cova ou Barranco. Também, apesar de se chamar Barroco de Arrifana, fica em Arrouquelas.
 
A realidade é que este local é hoje em dia quase mágico. Quem aqui vem, passa a entrar num ambiente diferente de qualquer paisagem que lhe fique perto.
Esta garganta é fruto de o terreno ser muito arenoso e de estar a ser cavado por um pequeno ribeiro que por aqui passa. Sempre que chove, mais um pouco da areia fina é arrastada pela água e mais cavado fica o desfiladeiro.
Neste local também se dava uma espécie de iniciação dos jovens da terra, em que estes eram incentivados a subir ao topo das ‘ilhas’ que aí se formam.






Este local inspirou António Rogério Jesuíno Bom que fez umas quadras que de seguida transcrevo e que desde já agradeço ao autor a autorização que me deu à sua publicação.

             A VOZ DO BARRÔCO

                                 I
Teus avós me deram o nome
Num baptismo que foi errado
Continuam a dizer que sou de Arrifana
Por isso estou muito zangado.

                                                                     II
                                               Todos me olham e me admiram
                                                É para Arrouquelas que estou voltado
                                                Encontro-me muito triste
                                                Continuo a ser filho rejeitado

                   III
Recuso ser de quem me dizem
Não foi para eles que cresci
Sempre tive de costas voltado
Sou de Arrouquelas, estou aqui!

                                                                  IV
                                                Arrifana diz que sou vosso
                                                Eles sempre tiveram razão
                                                Pois em mim reconhecem
                                                Por Arrouquelas, a única paixão.

                        V
Nasci nesta encosta com posição
Aqui bem juntinho ao rio
Tenho bastante admiração
Pela brancura do vosso casario.

                                                                    VI
                                                  Não posso negar quem sou
                                                  Mas também não peço fama
                                                  Uma coisa, a vós pedir vou
                                                  Não digam que sou de Arrifana.

                    VII
Estou deserto e abandonado
Mas tenho água e coisas belas
Quando for mais visitado
Serei um valor para Arrouquelas.

                                                           António Rogério Jesuíno Bom
                                                                            15 /07 /2001

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Fonte em Fonte Longa

Em Fonte Longa, Alcobertas, existe uma fonte com uns bonitos painéis de azulejos.

 
Alguns azulejos do painel principal estão partidos devido a uma racha na parede de fundo. Apesar deste dano, ainda se consegue admirar a bonita cena campestre pintada em tons de azuis.
A fonte está protegida por um telheiro que dá abrigo a quem aqui se queira demorar um pouco mais.