terça-feira, 22 de novembro de 2011

Azambujeira em 1758

Este artigo é escrito com base no documento 'Memórias Paroquiais' de 1758 guardado no Arquivo Nacional Torre do Tombo.
O documento tem como código de referência PP/TT/MPRQ/5/67.
As páginas que referem Azambujeira são as 957, 958, 959 e 960 do nº67, volume 5 de 'Memórias Paroquiais'.

Este é um artigo que faz uma fotografia de Azambujeira no ano de 1758, três anos após o grande terramoto de Lisboa.

Em resumo:
O Conde de Soure era o donatário na altura da vila de Azambujeira.
É feita a localização geográfica de Azambujeira e é referido que possuía 97 famílias que dava cerca de 350 pessoas.
É feita uma descrição detalhada da Igreja Matriz com devoção a Nossa Senhora do Rosário e também surge a referência à Ermida de Santa Luzia que já na altura se encontrava em vias de ruína, mas que mesmo assim era muito frequentada pelos populares que a ela também se deslocavam para cumprir promessas.
Existe uma descrição muito detalhada dos rendimentos da paróquia (grande parte das medidas são em Moios e 1Moio=21,762hectolitros).
O poder politico na região também é descrito, com o Juiz Ordinário, Juiz de Órfãos, Alcaides, Vereadores, Procurador do Concelho, Oficial da Câmara e Almotacé.
São descritos também os dois rios que passam por Azambujeira: O Rio Maior e o Rio de Alcobertas.
Curiosa é a descrição pormenorizada do Rio Maior, começando pelo seu nome. O Rio Maior era conhecido na nascente como Rio do Jogadouro, depois em Rio Maior, chamava-se Rio Maior, em São João da Ribeira, era conhecido como Rio de São João e após Azambujeira passava a ser conhecido como Rio do Amial.
O Rio Maior é descrito como sendo navegável por bateis, como tendo um grande caudal desde a sua nascente e como tendo uma grande abundância de peixe (Enguias, barbos, fataças, Sarmoins, ruivacas e lampreia).
As margens do rio também não foram esquecidas e são descritas como muito produtivas para o trigo, milho, legumes, árvores de fruto e árvores silvestres. Na região também surge referências à cevada, às oliveiras, às videiras e ao feijão fradinho.
Por último, o terramoto de 1755 não fez muita destruição por Azambujeira, pois caíram somente algumas casas de sobrado.





Segue agora uma cópia que tentei fazer do manuscrito. No entanto como não sou entendido em português antigo, poderá ter alguns erros.

Emm. Sn’r
Que posso dizer a respeito desta minha freguezia da villa de Azambugeira hes seguinte
Pertençe ao Patriarcado de Lisboa, comarca da villa de Santarem, termo da villa de Azambugeira e Freguezia de Nossa Senhora do Rozario
Esta villa he donatario della o Excelentipsimo Conde de Soure e o he ao prezente.
Tem esta Freguezia noventa e sete moradores, tem trezentas e sincoenta pepsoas.
Está esta villa situada em hum monte e se descobre della a villa de Santarem donde dista duas Legoas para a parte do Nacente.
Tem esta villa seu termo e comprende dois Lugares hum delles se chama Louriçeira que he da Freguezia de Almoster tem doze moradores, o outro Lugar he desta Freguezia e se chama Alfouvés, e tem trinta e seis moradores.
A Paroquia esta dentro na villa, e fora da villa tem hum lugar que se chama Alfouvés; o Orago desta Freguezia he Nossa Senhora do Rozario; tem aí Igreja só huma nave; tem três Altares exceto o da capela mor; o da parte do Evangelho he de Santo Antonio; e o da Epistulla he do Senhor Jezus Crucificado; estes dois Altares ficáo na façia da Igreja tem outro Altar na parede da Igreja da parte da Epistulla e he de Nossa Senhora do Rozario; tem esta Freguezia duas comfrarias, huma do Santipsimo Sacramento e outra de Nopsa Senhora do Rozario, esta comfraria de Nossa Senhora do Rozario esta sobordinada ao Prior do convento de Sáo Domingos da villa de Santarem; O Parroco desta Freguezia he vigario he aprezentado pello Excelentipsimo Conde de Soure a renda serta que tem Sáo dois moýos, de trigo, e hum moýo, de Feijáo fradinho, quatro cantaros de azeite, e huma terra no Paul chamado emtre as vallas, que costuma dar de nouidade trigo e milho dois moýos o mais he, se de Altar que junto huma couza com outra, rendera húns annos pelos outros cento e vinte mil reis
Tem esta Freguezia huma Ermida da Evocaçáo de Santa Luzia a qual imagem se acha na igreja por estar a ruinada a Ermida
Esta Ermida pertence ao Povo, tem muntas pepsoas devoçao com a Santa, donde vem varias vezes agradecer á Santa algum milagre que rezas a respeito dos olhos
Os Frutos que os moradores desta Freguezia recolhem sáo trigo munto e bom sevada e bastante milho também recolhem munto vinho e azeite e legumes de todas as castas
He governada esta terra por hum Juis ordinário tem dois Veriadores e hum Procurador do conçelho e Almotaçe  e Oficial da camara e Alcaydes e o mesmo Juis ordinário he Juis dos orfos; Esta Justiça he feita de tres em tres anos por pelouro o qual se costuma a fazer justiça para tres anos e preside á Eleiçáo o corregedor da villa de Santarem pelo qual sáo confirmados quando se abre o pellouro; Sevinçe esta terra do correyo da villa de Santarem de onde dista duas Legoas
Fica esta terra distante da çidade de Lisboa quatroze Legoas.
A ruina que padeçeo no teremoto do anno de 1755 foráo só humas cazas de sobrado as quais cahiráo a inda se acháo cahidas
Está esta terra em hum monte a qual sercáo dois Rios hum da parte do poente o qual tem o seu nascimento na Freguezia de Rio Mayor junto a huma quinta chamada o jugadouro no qual sitio comteria o mesmo nome do sitio donde nasçe Logo mais abaixo se chama Rio Mayor tomando o nome da terra por onde papsa passando pella Freguezia de Sáo Joáo da Ribeira se chama o Rio de Sáo Joáo e chegando a esta Freguezia de Azambugeira se chama o Rio do Amial por passar por huma Ribeira chamada o Amial e dista desta Freguezia duas legoas ao seu nascimento
Este Rio nasçe logo caudallozo e corre todo o anno
Desta Freguezia para sima náo he navegável por cauza de huma ponte de cantaria que se acha no meyo das Fazendas da Freguezia ca tal ponte empede a navegação daqui para sima
O outro Rio da parte do Nacente naçe a onde se chama as Alcobertas  No chamado olho dagoa das Alcobertas e nesta Freguezia se chama o Rio de Calharis este Rio daqui para cima the o lugar do seu nascimento náo he navegável por respeito dos asudes Este Rio também naçe Logo caudaloso e corre todo o anno
Qualquer destes dois Rios desde o sitio donde moram the apon que esta nesta Freguezia são Navegaveis no tempo de Inverno por Bateis que costumáo carregar quinze dezasseis moyos de páo
Qualquer destes dois Rios em humas partes sáo de curso Arebatado em outras quieto;
Correm estes dois Rios do Norte para o Sul; Criáo estes Rio quantidade de Peixes de toda a casta estes sáo muntas emguia barbos Fataças Sarmoins Ruivacas e em  alguns mezes do anno como sáo Março Abril e Mayo se fazem huns carreiros donde se apanháo bastantes Lampreas e de toda a pescaria uzáo Livremente todas as pepsoas
As margens destes dois Rios se cultiváo donde se recolhe bastante trigo milho e Legumes em algumas partes tem seu Arvoredo tanto de Fruto como  Silvestre
Estes dois Rios se ajuntáo hum com outro nesta Freguezia donde chamáo o canto do pego juntos em hum váo morrer no Rio Tejo donde chamáo o Rio Novo
Os moradores desta villa uzam Livremente de suas agoas para a cultura das suas terras
O Rio da parte do Nascente desde o seu Nascimento ate donde morre dista sete Legoas e o da parte do Poente dista seis Legoas; he o que a Vossa Emm.ª poço dizer desta minha Freguezia de Azambugeira houje dois de Abril de 1758

O Vigario Francisco Baup.tas
Azambugeira

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